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Delém

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Delém
Informações pessoais
Nome completo Vladém Lázaro Ruiz Quevedo
Data de nascimento 15 de abril de 1935 (89 anos)
Local de nascimento São Paulo, Brasil
Nacionalidade brasileiro
Data da morte 28 de março de 2007 (71 anos)
Local da morte Buenos Aires, Argentina
Altura 1,78 m
destro
Apelido Delém
Informações profissionais
Posição atacante
treinador
Clubes profissionais
Anos Clubes Jogos e gol(o)s
1952–1958
1958–1961
1961–1967
1968–1969
1969–1970
Grêmio
Vasco da Gama
River Plate
Universidad Católica
America

131 (66)
Seleção nacional
1960 Brasil 0007 0000(5)

Vladém Lázaro Ruiz Quevedo, mais conhecido como Delém (São Paulo, 15 de abril de 1935Buenos Aires, 28 de março de 2007) foi um futebolista e técnico de futebol brasileiro radicado na Argentina.[1]

Delém é um dos grandes nomes da história do River Plate, como jogador e, principalmente, como descobridor de talentos, em seu trabalho nas categorias inferiores do time.[2] Chegou, inclusive, a ser o segundo estrangeiro com mais gols pelo clube.[3]

Chegou ao River após destacar-se com quatro gols em três partidas pela seleção brasileira contra a seleção argentina em 1960, ainda como jogador do Vasco da Gama.[4] No país vizinho, também teve trabalhos reconhecidos sobretudo no Huracán, como vice-campeão argentino em 1975, e no Argentinos Juniors em 1979, passagem que fez de Delém o único brasileiro a ter sido técnico de Diego Maradona.[5]

Como jogador

No futebol brasileiro

O ataque de cinco estrangeiros do River em 1961: o uruguaio Domingo Pérez, os brasileiros Delém e Moacir, o espanhol Pepillo e o brasileiro Roberto Frojuello.
Cena do primeiro Superclásico de 1962, histórico por três gols do River em três minutos. Delém fez um e é o jogador caído junto com o goleiro Néstor Errea enquanto Luis Artime marca outro dos gols.
A polêmica defesa de Antonio Roma no pênalti batido por Delém, em duas fotos. A do canto superior esquerdo da imagem mostra o goleiro boquense bem adiantado no momento da defesa.
Delém (à direita) pelo River em maio de 1965.

Embora nascido em São Paulo, jamais atuou no futebol paulista. A carreira começou no Rio Grande do Sul, no Grêmio, no qual ingressou ainda nas categorias de base.[5] Teve uma primeira oportunidade em 1954 no time adulto, mas à altura de 1957 ainda era considerado jogador mais presente na equipe de aspirantes - apesar de bons momentos, como uma assistência que abriu vitória de 3-1 sobre o Estrela Vermelha em 1955 e gol que abriu outro 3-1, sobre o Racing, em 1956 (ambos amistosos).[6]

Mesmo sem ter se firmado na equipe gaúcha, foi transferido em 1958 ao Vasco da Gama, em negociação que envolveu a troca por Ortunho, por sua vez cedido pelos cruzmaltinos aos tricolores. Delém integrou a campanha campeã naquele ano do Torneio Início do Rio de Janeiro e do "supersuper" campeonato carioca.[7] A boa fase como vascaíno o fez ser considerado no clube como o sucessor de Almir Pernambuquinho,[8] bem como proipiciou jogos pela seleção brasileira, já em 1960.[7]

Foi enfrentando pelo Brasil a seleção da Argentina que Delém atraiu atenção do país vizinho. Primeiramente, nos duelos válidos pela Copa Roca de 1960, ambos realizados em maio no estádio Monumental de Núñez, do River Plate. No primeiro, marcou gol em derrota por 4-2 - recebendo passe de Julinho Botelho, fez o segundo gol brasileiro, diminuindo provisoriamente a derrota para 3-2; no segundo, fez os dois gols da vitória por 2-0 ao longo dos 90 minutos. Primeiramente, aproveitando cruzamento de Julinho Botelho e, no segundo, um rebote do goleiro adversário. O resultado forçou uma prorrogação resultada em vitória brasileira por 4-1, para a qual Delém foi especialmente importante também no terceiro gol: tabelou com Julinho, cujo arremate desviou em zagueiro adversário e enganou o goleiro.[9] A vitória brasileira por 4-1 é o triunfo mais elástico já conseguido pelo Brasil em clássicos contra a Argentina na casa adversária.[7]

No mesmo ano, pela Taça do Atlântico de 1960, Delém participou em julho de 5-1 no estádio do Maracanã, segunda vitória mais elástica do Brasil em qualquer estádio sobre a arquirrival.[4] Substituiu Coutinho no decorrer de jogo polêmico, vencido de virada na qual Pelé atuou apenas no primeiro tempo, que se encerrava com o placar de 3-1 quando uma confusão generalizada surgiu quando o que seria o quarto gol brasileiro terminou anulado. Nela, Pelé agrediu um dos três adversários que o cercaram - Néstor Cardoso - e, por precaução, foi poupado para a segunda etapa. Delém havia sido precisamente o único jogador que não se envolveu na briga campal e marcou, aos 15 minutos do segundo tempo, o quarto gol efetivamente validado.[10]

O protagonismo de quatro gols em três clássicos contra a Argentina o fez ser contratado imediatamente pelo próprio River,[4] para a temporada de 1961, embora essa transferência também viesse a afastar para sempre Delém da seleção brasileira, que não convocava ainda quem atuasse no exterior.[7]

River Plate

Delém chegou ao River em um contexto de bastante valorização de jogadores brasileiros após o título na Copa do Mundo FIFA de 1958, a ponto dos compatriotas Moacir (membro do título mundial),[11] Roberto Frojuello (outro presente na conquista da Copa Roca de 1960), Salvador (adquirido junto ao Peñarol) e Décio de Castro serem adquiridos no mesmo período. O clube chegou a formar um ataque com três brasileiros juntos e, no início do ano, teve sucesso em amistosos na Europa. Delém marcou gols em vitórias de 3-2 sobre o Real Madrid, resultado que encerrou oito anos de invencibilidade absoluta da equipe de Alfredo Di Stéfano contra equipes estrangeiras no estádio Santiago Bernabéu, e de 3-1 sobre o Napoli.[12]

Moacir e Roberto também tiveram bom desempenho na excursão, mas apenas Delém manteria uma regularidade de boas partidas no regresso à Argentina. Em 1961, o clube acabou aquém do esperado, terminando o campeonato argentino em uma terceira colocação a nove pontos do campeão Racing, em tempos nos quais vitórias só valiam dois pontos e não três.[12] Delém marcou seis gols em dezesseis partidas, incluindo um no Superclásico, em derrota de 3-1 na qual os outros gols foram também brasileiros - todos de Paulo Valentim.[13] Em janeiro de 1962, o River venceria festejado amistoso contra o Santos de Pelé e ao longo dano efetivamente lutaria pelo título argentino, que não conquistava desde 1957.[12] Delém, formando boa dupla ofensiva com Luis Artime, terminou em terceiro na artilharia do campeonato, com 19 gols.[14] Um deles, em chute a 35 metros de distância no Superclásico válido pelo primeiro turno.[15]

O clube, contudo, permaneceria em jejum até 1975, sendo Delém considerado precisamente um dos grandes ídolos que o River teve a despeito do longo período sem troféus - apesar do próprio brasileiro acabar responsabilizado pela derrocada do torneio argentino de 1962. Naquele contexto, o arquirrival Boca vivia jejum ainda maior, desde 1954. O Gimnasia y Esgrima La Plata foi líder em boa parte do campeonato, mas fraquejou na reta final, na qual a disputa se concentrou como raras vezes entre a dupla principal. Boca e River duelaram na penúltima rodada estando igualados na liderança, um Superclásico histórico novamente sob protagonismo de Valentim e de Delém; o oponente, por ter convertido o único gol, de pênalti, ao passo que Delém acabou como destaque negativo justamente por perder um pênalti que poderia ter empatado o jogo a cinco minutos do fim. A despeito do goleiro boquense Antonio Roma ter se adiantado clamorosamente na defesa, o árbitro, receoso contra a própria segurança, negou-se a ordenar que a cobrança fosse repetida.[16]

A polêmica do erro arbitral foi reforçada com versão muito difundida de que o juiz teria justificado-se com a assertiva de que "pênalti bem chutado é gol", boato que o próprio Delém desmentia como inverídico.[17] O adversário Antonio Rattín, por sua vez, recordou-se cinquenta anos depois que o goleiro Antonio Roma "sim, se adiantou, mas atenção, que todos sabíamos em que lado ia chutar. Nós nos reuníamos todas as quartas-feiras ao meio-dia na cantina (...) e sabíamos, porque tínhamos (...) espião, que Delém chutava o penal para a direita. Isso sabia até Carmelo Simeone, que era o designado para ir ao gol caso Roma se lesionasse, porque nessa época não havia substituições. Então se Roma não se jogasse para esse lado, o matávamos. Agora, de adiantar-se não lhe dizemos nada, isso foi ideia dele".[18]

Em 1963, Delém marcou quatro gols em 22 jogos pelo campeonato argentino.[19] O River tornou a brigar pelo título, dessa vez contra o Independiente. Porém, uma inoportuna nova derrota em Superclásico na reta final, mesmo dentro do Monumental, acabou por permitir a ultrapassagem do concorrente da vez.[20]

O River terminou em terceiro no campeonato de 1964, mas sem conseguir competir verdadeiramente contra o campeão, novamente o Boca - persistindo-se desgosto especial pela conquista do rival ter se garantido pela primeira vez em pleno Superclásico, na penúltima rodada, após gol de antigo ídolo riverplatense convertido em jogador auriazul (Norberto Menéndez).[21] Delém jogou dez vezes naquela temporada e marcou três gols.[22] Em setembro 1965, ele participou do jogo de inauguração do estádio Mineirão, entre o River e a seleção mineira, vencedora por 1-0.[23]

O torneio de 1965, por sua vez, voltou a ver Boca e River disputarem o título. E, novamente, o Boca sobressaiu-se após outro triunfo em Superclásico ao fim do certame, na antepenúltima rodada: o resultado de 2-1, de virada e com outro gol de Menéndez, serviu para o rival ultrapassar o River.[24] Delém jogou dezessete vezes e marcou três gols,[25] tornando-se de vez reserva a partir de 1966, ano em que o clube teve dois novos vice-campeonatos.[5]

Em junho, o River foi derrotado por 4-2 no último jogo da Copa Libertadores da América de 1966 pelo Peñarol embora chegasse a estar vencendo-o por 2-0; naquela campanha, Delém foi utilizado sobretudo na primeira fase de grupos, não chegando a participar dos três duelos finais contra os uruguaios.[5] Já no campeonato argentino, o clube alcançou pontuação suficiente para render-lhe o título em todas as outras edições ocorridas na década de 1960, menos naquela, diante da sequência notável de 39 jogos seguidamente invictos do concorrente Racing.[26] O brasileiro, no torneio nacional, foi utilizado em seis partidas e deixou um gol.[27]

Delém continuou a jogar no River até 1967, ano em que marcou apenas um gol, na vitória de 7-0 sobre o 31 de Octubre pela Libertadores daquela temporada;[5] no campeonato argentino, só esteve em duas partidas.[28] Apesar da falta de títulos, foi reconhecido pelos argentinos como um jogador de futebol elegante, técnico e cerebral.[29][30]

Quando deixou o clube, apenas o uruguaio Walter Gómez superava Delém em gols (77 contra 38) dentre os jogadores estrangeiros do River, defendido por Gómez entre 1950-55. À altura de 2024, o brasileiro é o 11º maior, vindo a ser ao longo dos anos superado pelos 137 de Enzo Francescoli (1983-86 e 1994-97), 62 de Juan Pablo Ángel (1998-2000), pelos 55 de Rafael Santos Borré (2017-21), pelos 47 de Marcelo Salas (1996-1998 e 2003-05), pelos 45 de Radamel Falcao (2005-09) e de Miguel Borja (desde 2022), 43 de Antonio Alzamendi (1982-83 e 1986-88), 41 de Rodrigo Mora (2012-18) e 39 de Rubén da Silva (1989-93).[3] Destacava-se também servindo colegas, sendo rotulado juntamente com Ermindo Onega como um dos melhores companheiros que teve nesse aspecto por Oscar Más,[31] segundo maior artilheiro da história do River.[32]

Final da carreira

Já com 32 anos, foi jogar no futebol chileno, ficando uma temporada no Colo Colo e outra no Universidad Católica, com a qual esteve em campanha semifinalista da Copa Libertadores da América de 1969,[5] eliminada pelo futuro campeão Estudiantes de La Plata.[33] Ainda em 1969, regressou ao Brasil, como jogador do America do Rio. E no clube do Rio de Janeiro parou de jogar, no ano seguinte.[5]

Títulos

Grêmio
Vasco da Gama
River Plate
  • Torneio Triangular de Buenos Aires: 1962
  • Torneio Quadrangular de Bogotá: 1964
Seleção Brasileira

Em comissões técnicas

Delém logo voltou à Argentina e ao River, como auxiliar técnico do compatriota Didi, chamado a Núñez para quebrar o jejum, que ainda se arrastava.[34] Didi e Delém buscaram valorizar, além do futebol bonito, as categorias de base do clube, lançando desde então futuros ídolos como Reinaldo Merlo, Carlos Morete, Juan José López e Norberto Alonso. Mesmo assim, os troféus não vieram e Didi acabou saindo em 1972.[35]

Delém chegou a treinar o River em 1973. Teve um bom início, com quatro vitórias e um empate nos cinco primeiros jogos, marca que somente outros três treinadores haviam conseguido até então no clube - e igualada desde então por somente outros quatro.[36] Com isso o brasileiro, inicialmente apenas técnico interino, acabou efetivado para o restante da temporada. Promoveu no clube a estreia do goleiro Ubaldo Fillol e logrou doze dos primeiros pontos possíveis.[5] Com Delém, o clube classificou-se ao quadrangular final que decidiu o Torneio Nacional.[37]

O quadrangular final se desenrolou em turno único em campos neutros, e uma derrota inicial para o Rosario Central, que venceu também a segunda rodada (sobre o Atlanta), acabou favorecendo a equipe rosarina. O River foi à rodada final ainda com chances de título, caso vencesse e o concorrente perdesse, já em 30 de dezembro. Ambos empataram seus jogos, combinação que terminou para assegurar o título ao Central.[38] Um dos jogadores do elenco millonario, Enrique Wolff, seguia lamentando à altura de 2005, quando enumerou fatores extracampo para a derrocada: "estivemos a ponto de sermos campeões com a equipe de Delém, mas havia curto-circuitos com a direção. Era incrível, mas havia brigas dirigentes-plantel faltando uma partida para a final. Politicamente, o River sempre foi muito difícil".[39]

No mês seguinte, em janeiro de 1974, o clube optou por contratar Néstor Rossi como novo treinador.[40] A ausência de títulos pendente desde 1957 se estenderia até 1975, e, ironicamente, Delém àquela altura treinava justamente o principal concorrente do River, o Huracán.[5] Delém assumiu o Huracán a partir da 14ª rodada do Torneio Metropolitano e permaneceu até o fim do ano.[41] As oito vitórias seguidas que conseguiu permitiram que os huracanenses brigassem pelo título do Metropolitano e ainda são a maior sequência de triunfos desse clube no profissionalismo, embora a oitava delas se desse precisamente na mesma data (a da penúltima rodada) em que o troféu foi mesmo garantido pelo River.[42] Muitos protagonistas da redentora conquista riverplatense eram jovens, então mais maduros, que haviam começado a ser valorizados a partir do trabalho de Didi e Delém no início da década.[35]

Em 1976, Delém treinou o Vélez Sarsfield, entre setembro e novembro.[43] A experiência não foi positiva, sendo lembrada por ocasião na qual o brasileiro chegou a ser expulso sob ameaça de revólver dos vestiários por líder da torcida organizada velezana e futuro presidente do clube, Raúl Gámez.[5] Chegou a voltar a trabalhar como auxiliar de Didi, quando este treinou o Al-Ahli, da Arábia Saudita.

Delém reapareceu no cenário argentino como treinador de Diego Maradona no Argentinos Juniors,[5] entre março e setembro de 1979. No período, Maradona foi o artilheiro do Torneio Metropolitano, mas seu clube acabou eliminado nos critérios de desempate com o Vélez ao fim da fase de grupos.[44] A equipe chegara a liderar a chave e, também nesse período, Maradona conheceu pessoalmente Pelé, sendo autorizado por Delém a viajar ao Brasil para um encontro entre ambos promovido pela revista El Gráfico. Ambos trocaram elogios sobre Delém, a quem Pelé pediu que Diego repasasse desejos de boa sorte no Argentinos.[45]

Sem ainda conhecer Maradona, Enrique Wolff declararia ter sido persuadido a trocar o Real Madrid pelo Argentinos para voltar a trabalhar com Delém, a quem já conhecia do River - e que preferiu ir embora após a direção demitir precipitadamente Delém.[39][46] Detalhou em 2005 que "me telefonou Delém, a quem conhecia do River, e me convenceu: 'temos um jogador que é um monstro e quero rodeá-lo com duas ou três figuras de destaque para imitar o Santos do Brasil e jogar por todo o mundo'. Gostei da ideia, mas logo demitiram Delém e não tolerei as coisas que aconteciam... o monstro era Diego, claro".[39] Delém acabaria sendo o único brasileiro a ter treinado Maradona, desconsiderando-se amistosos.[5]

Em 1980, Delém treinou rapidamente o San Lorenzo, entre fevereiro e a primeira quinzena de março,[47] para substituir Carlos Bilardo.[5] O clube estava sob grande crise financeira que o havia feito vender seu antigo estádio do Gasómetro no ano anterior, contexto no qual as contratações requeridas pelo treinador eram consideradas caras demais. Sem cativar a torcida azulgrana, durou pouco, embora se tornasse o único brasileiro a trabalhar em ambos os lados da rivalidade Huracán-San Lorenzo.[48]

Em 1982, o brasileiro queixou-se publicamente de sentir-se boicotado após críticas que realizara aos bastidores do futebol argentino: "em nenhum momento pronunciei a palavra máfia, mas tenho certeza: há uma organização que se dedica a arranjar emprego para técnicos. E mais: um pacto secreto entre os dirigentes para não empregar os que façam críticas. Isso explica eu e Perfumo não termos trabalho. O caso de Vázquez, no River, é uma prova: quem assina a escalação é Ramos Delgado, e todo mundo finge que não vê. Não sei para que estudei tanto: aqui, diploma parece não servir para nada".[49] Perfumo chegaria a passar cerca de dez anos sem trabalhar como técnico, entre 1981 e 1990, como suposta retaliação por cobrar judicialmente salários atrasados, conduta que era vista como imperdoável pelos dirigentes;[50] mas, ainda em 1984, preferiu contestar a insinuação do brasileiro, descrevendo-a como equivocada.[51]

A última experiência de Delém como treinador de adultos foi no Gimnasia y Esgrima Jujuy, em 1986, sendo campeão do campeonato provincial de Jujuy, em contexto especialmente importante dos torneios provinciais - pois serviriam também de qualificatórios à primeira edição nacionalizada da segunda divisão argentina, até então restrita de modo oficial a clubes da Grande Buenos Aires, La Plata, Rosario e Santa Fe.[5] Apenas os campeões das ligas do interior se classificariam, sendo a volta olímpica de Delém descrita como especialmente emotiva.[52]

Em 1990, retornou outra vez ao River Plate, na função de diretor das categorias de base millonarias.[53] Alfredo Davicce, presidente do clube na ocasião do título riverplatense no Mundial Interclubes de 1986, considerava Delém um de seus consultores de mais confiança na tomada de determinadas decisões.[54] Um dos atletas trabalhados por Delém, Diego Cocca, relembraria dele em 2016 como "um cara que cultivava permanentemente que a equipe jogasse. Te falava com sotaque brasileiro, o gracejavam, um cara muito divertido, bem brasileiro, um cara que retirava o drama do futebol e que queria que jogássemos bem".[55]

Seu trabalho renderia grandes dividendos para o River, que naquela década de 1990 revelaria (e lucraria com as respectivas vendas, além de títulos) Ariel Ortega, Hernán Crespo, Marcelo Gallardo, Pablo Aimar, Matías Almeyda, Santiago Solari e Javier Saviola, dentre outros.[56] Além de coordenador, Delém ocasionalmente também era o técnico da equipe sub-20, com a qual em 25 de outubro de 1997 chegou a treinar vitória de 4-1 do River em Superclásico com o Boca Juniors no campeonato da categoria, comandando na ocasião Aimar e Solari.[57] Delém também foi treinador interino da equipe principal na primeira rodada do Clausura 2000, entre a saída repentina de Ramón Díaz ao fim da pré-temporada e a chegada de Américo Gallego. O clube viria a ser campeão, no que foi o único título de sua equipe principal tendo a participação do ídolo brasileiro.[5]

Porém, Delém e toda a comissão técnica que ele liderava foi demitida em 2001, pelo novo presidente do River na época, José María Aguillar, por motivos políticos - pela proximidade de Delém com ex-presidente Alfredo Davicce.[29] Sua saída é apontada como um dos motivos para as categorias inferiores do clube terem se desvalorizado a longo prazo: de fato, as vendas de Andrés D'Alessandro, Gastón Fernández, Fernando Cavenaghi, Maxi López, Javier Mascherano, Martín Demichelis, Gonzalo Higuaín e Juan Pablo Carrizo, todos eles também trabalhados por Delém,[30] embora altas, foram menores que as cifras que o clube recebeu na década anterior.[56] Uma das últimas revelações com quem pôde trabalhar nos juvenis foi Diego Buonanotte, cujo próprio avô estava descrente nas chances de êxito após um teste ruim no Racing, ficando surpreso com a insistência do brasileiro - descrito em reportagem a respeito como alguém com "olho apurado como poucos para distinguir em cinco minutos o selo de qualidade riverplatense".[58]

Delém continuou a trabalhar com promessas, chegando a participar de um programa televisivo voltado para esta finalidade e também como diretor dos juvenis do Ferro Carril Oeste.[29]

Títulos

Gimnasia y Esgrima de Jujuy
River Plate

Morte

Morreu no dia 28 de março de 2007, aos 71 anos, vítima de um ataque cardíaco fulminante,[1] em uma confeitaria no número 500 da rua Paraguay, em Buenos Aires.[52]

Referências
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