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O jantar que pode decidir o futuro europeu de António Costa ou começar a desenhá-lo

por Andrea Neves - correspondente da Antena 1 em Bruxelas
A cimeira na qual tudo deve ficar decidido está marcada para os dias 27 e 28 John Thys / AFP

O objetivo é que os cargos de topo estejam escolhidos até ao final do mês e, por isso, o atual presidente do Conselho Europeu convocou os chefes de Estado e de governo para uma primeira abordagem, num jantar informal esta segunda-feira, uma semana depois das Eleições Europeias.

A cimeira na qual tudo deve ficar decidido está marcada para os dias 27 e 28. Mas os negociadores estão há vários dias no terreno: os primeiros-ministros da Polónia e da Grécia pelo Partido Popular Europeu, que ganhou as eleições, o primeiro-ministro de Espanha e o chanceler alemão pelos socialistas, que ficaram em segundo lugar, e os primeiros-ministros da Bélgica e da Estónia pelos liberais, a terceira força política no Parlamento Europeu.

Já se sabe que a distribuição dos principais cargos – presidentes da Comissão, do Conselho e do Parlamento, e chefe da diplomacia europeia – tem que seguir os resultados das eleições e regras de equilíbrios nem sempre fáceis: políticos, regionais e de género.

O desenho possível – e diga-se o mais falado – tem sido o que mantêm Ursula von der Leyen, do Partido Popular Europeu e da Alemanha, à frente da Comissão Europeia por mais cinco anos (até porque o grupo político a que pertence ganhou as eleições e conseguiu 190 lugares no hemiciclo) e Roberta Metsola, também do PPE e de Malta, na Presidência do Parlamento Europeu na primeira parte da legislatura.
Os possíveis cargos de topo para socialistas e liberais

Nesta distribuição – que inclui duas representantes do PPE – entram depois António Costa, dos socialistas e de um país do sul como presidente do Conselho Europeu, e Kaja Kallas, a primeira-ministra da Estónia, ou Alexandre de Croo, primeiro-ministro demissionário da Bélgica, a representar os liberais na liderança da política externa da União.

Os países de leste aceitariam este possível desenho institucional porque apostam na nomeação de um comissário para a defesa, um novo e importante dossier no próximo executivo europeu. E aqui surge o nome do ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia.

Os países do Benelux ficam de fora desta equação mas Mark Rutte, que vai deixar o Governo dos Países Baixos, tem sido apontado como o próximo secretário-geral da NATO o que não está diretamente relacionado com o desenho institucional europeu mas ajuda aos equilíbrios geográficos.
E que apoios tem já António Costa?
António Costa recebeu o apoio do Governo português, apesar de ainda nem se ter apresentado oficialmente como candidato. Luís Montenegro anunciou-o na noite das eleições e deve reforçá-lo na reunião do Partido Popular Europeu esta segunda-feira antes do jantar de Chefes de Estado e de Governo em Bruxelas.São 13 os líderes europeus que pertencem a este grupo político e que Luís Montenegro tentará convencer apresentando, como moeda de troca, um mais que esperado apoio dos socialistas a Ursula von der Leyen para um segundo mandato como presidente da Comissão.

Nos socialistas já se sabe que Olaf Scholz, o chanceler alemão, anunciou o apoio ao ex-primeiro-ministro português. O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, também já disse que António Costa tem todas as condições para o cargo e parece afastada, pelo menos para já, a hipótese de ele próprio se querer candidatar.

Apesar de Cotrim de Figueiredo afirmar que vai tentar convencer os liberais a não escolher o socialista português, não é segredo que o presidente francês, Emmanuel Macron, também ele liberal, tem uma boa relação com António Costa.
A concorrência que pode vir da Dinamarca
O ex-primeiro-ministro português, que se demitiu há mais de seis meses, precisa de ser aprovado no Conselho Europeu mas não precisa de ser confirmado pelo Parlamento Europeu. Mesmo assim, os quatro lugares de topo são negociados em conjunto. No caso de a pessoa escolhida para a Presidência da Comissão Europeia não conseguir a aprovação do hemiciclo, por exemplo, todo o desenho tem que ser feito de novo.

Na corrida ao lugar para a Presidência do Conselho Europeu pode ainda estar a dinamarquesa Mette Frederiksen, também ela socialista. Já foi um nome apontado para a liderança da NATO mas disse que não estava nesse lugar. Mas Frredeiksen ainda nada disse sobre a presidência da instituição que junta os Chefes de Estado e de Governo.

O sucessor de Charles Michel assume o cargo de Presidente do Conselho Europeu a 1 de dezembro. Pelo menos é o que está previsto se as escolhas não se complicarem.
O processo judicial
Se em Bruxelas são muitos os diplomatas que assumem que António Costa tem a preferência para o cargo de Presidente do Conselho Europeu, não deixam de ser também muitos os que ainda levantam dúvidas sobre que influência pode ter o processo judicial por causa do qual se demitiu do cargo de primeiro-ministro.

António Costa não é sequer arguido mas o processo ainda não foi oficialmente arquivado. O peso que pode vir a ter no momento da escolha é ainda uma incógnita.
Fica tudo decidido esta segunda-feira?

Até pode ficar (não oficialmente), mas é difícil que assim seja por causa da subida, apesar de controlada, da extrema-direita nas eleições europeias.

Com representantes também no Conselho Europeu – a primeira-ministra italiana como a mais destacada e o primeiro-ministro húngaro ainda a definir em que grupo político quer inserir os deputados eleitos pelo seu partido (depois de ter sido suspendo do PPE) – os representantes da direita radical vão querer contrapartidas. Ninguém admite que seja um cargo europeu mas certamente serão negociadas vantagens em políticas europeias e ganhos em outras matérias nas quais têm sido uma voz ativa.

Será provavelmente tudo decido na cimeira de 27 e 28 de julho. Os chefes de Estado e de Governo regressam a Bruxelas para decidir e dar forma à divisão de cargos europeus.
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