Skip to main content
O princípio empirista segundo o qual toda ideia deriva de uma impressão correlata e a representa figura, na obra de Hume, como princípio que ordena a investigação, além de funcionar como critério segundo o qual decidimos a legitimidade... more
O princípio empirista segundo o qual toda ideia deriva de uma impressão correlata e a representa figura, na obra de Hume, como princípio que ordena a investigação, além de funcionar como critério segundo o qual decidimos a legitimidade das teorias. Aliás, é exatamente por funcionar como critério de legitimidade das teorias científicas, que o princípio empirista pode ordenar a investigação, sendo ele o responsável pela conversão operada pela obra de Hume da teoria em inquérito. Essa conversão significa que, agora, o empirismo possui como método de investigação a redução das ideias às suas impressões correspondentes, o que é o mesmo que dizer que a experiência ganha ares de tribunal da ciência. Afinal de contas, o expediente de aplicação do princípio empirista se resolve exatamente em fazer as ideias remontarem a sua origem. É verdade que, nesse caso, o princípio empirista atua em concurso com o atomismo, de modo que fazer ideias, complexas como tais, remontar à sua origem significa fazê-las remontar aos átomos da experiência a partir dos quais elas se constituíram. Em sendo assim, por um lado, a aplicação do princípio empirista consistiria na afirmação da origem simples das ideias; por outro, na afirmação incontornável de que as ideias são também efeito de princípios de associação que atuam no espírito humano. É claro que, tanto como a primeira, a última afirmação jamais representou qualquer dificuldade para o empirismo, mesmo no que respeita ao empirismo lockeano, na medida mesma em que as duas afirmações, tomadas em conjunto, não significam mais do que se por um lado as impressões de sensação são a origem do espírito, por outro, as impressões de reflexão não podem ser senão efeito dos princípios que atuam nesse mesmo espírito. Em outras palavras, é como se, nesse caso, Hume reiterasse que o sujeito se define pela atividade na mesma medida em que se define pela passividade. Ou seja, se a passividade que o define permite que o compreendamos como mero receptáculo das ideias, isto, no entanto, não anula a sua atividade da qual aquelas mesmas ideias devem resultar. Nesse sentido, pode-se afirmar que são exatamente as impressões de reflexão que tornam possível qualificar o espírito humano como sujeito. Com efeito, se o princípio empirista situa os átomos da experiência como origem das ideias, os princípios de associação segundo os quais esse mesmo material empírico é operado por um sujeito são definidos exatamente pela capacidade de ultrapassar o dado. Por essa perspectiva, deve interessar ao empirismo humano, muito mais do que a origem do espírito, o problema da constituição do sujeito, mesmo porque aplicação do princípio empirista permitirá à filosofia humeana afirmar não encontrar qualquer impressão que possa corresponder à ideia de substância ou de eu. Desse modo, resta à filosofia humeana afirmar ser o sujeito constituído unicamente por uma coleção ou feixe de impressões. No entanto, a dificuldade é compreender como a identidade do eu, tão essencial à constituição do sujeito, pode ser afirmada sem uma substância a partir da qual seja possível discernir as propriedades acidentais das essenciais que, por ventura, pertençam ao sujeito. É justamente em virtude dessa dificuldade que a noção de substância sempre figurou na história da filosofia, como uma espécie de herança aristotélica, como condição primeira de toda predicação possível, mesmo em se tratando de uma filosofia de matiz cartesiana. Nessa medida, o trabalho do bolsista consistirá em analisar, a partir sobretudo da leitura da Investigação sobre o entendimento humano, como a filosofia humeana, depois de demolir a noção de substância é capaz de reconstituir uma subjetividade. À medida que envolve o tema da unidade do sujeito sem a qual não é possível sua constituição, a pesquisa do bolsista dialoga com o projeto “O Antipsicologismo e a Certeza em Wittgenstein”, pois se aqui cumpre avaliar a perspectiva humeana segundo a qual o sujeito não é mais do que uma coleção de impressões, não sendo constituído por um núcleo essencial, em nosso projeto trata-se de examinar a relação determinação entre a proposição, enquanto ato de um sujeito, e a alma, a partir de uma crítica ao psicologismo que pretenderia fazer a significação lógica ser determinada por elementos anímicos.
Resumo: Durante alguns anos a filosofia foi excluída do currículo escolar. Depois de muito tempo, a disciplina voltou a fazer parte dos parâmetros curriculares do ensino médio. Verificamos que desde seu regresso, os professores receberam... more
Resumo: Durante alguns anos a filosofia foi excluída do currículo escolar. Depois de muito tempo, a disciplina voltou a fazer parte dos parâmetros curriculares do ensino médio. Verificamos que desde seu regresso, os professores receberam a enorme tarefa de ensinar filosofia. Se depararam com grandes desafios, pois ora deveriam educar o aluno para ser cidadão, ora para discutir e relacionar os saberes filosóficos com as outras disciplinas e outras vezes aprender a filosofar para ensinar a filosofar. Nosso objetivo consiste em questionar esse caráter instrumental da filosofia e apontar para os principais desafios dos professores em salas de aula. Concluímos que atualmente vivemos numa era tecnológica onde tudo é muito rápido, prático e útil, e encontramos na filosofia um universo lento, teórico e inútil. Disso resulta um desinteresse geral pelo hábito da leitura, do pensamento e da reflexão.
Resumo: Durante alguns anos a filosofia foi excluída do currículo escolar. Depois de muito tempo, a disciplina voltou a fazer parte dos parâmetros curriculares do ensino médio. Verificamos que desde seu regresso, os professores receberam... more
Resumo: Durante alguns anos a filosofia foi excluída do currículo escolar. Depois de muito tempo, a disciplina voltou a fazer parte dos parâmetros curriculares do ensino médio. Verificamos que desde seu regresso, os professores receberam a enorme tarefa de ensinar filosofia. Se depararam com grandes desafios, pois ora deveriam educar o aluno para ser cidadão, ora para discutir e relacionar os saberes filosóficos com as outras disciplinas e outras vezes aprender a filosofar para ensinar a filosofar. Nosso objetivo consiste em questionar esse caráter instrumental da filosofia e apontar para os principais desafios dos professores em salas de aula. Concluímos que atualmente vivemos numa era tecnológica onde tudo é muito rápido, prático e útil, e encontramos na filosofia um universo lento, teórico e inútil. Disso resulta um desinteresse geral pelo hábito da leitura, do pensamento e da reflexão.
A história da filosofia assimilou a obra de David Hume ao empirismo, fazendo da crítica à causalidade um dos principais signos da sua radicalidade e, por vezes, do seu ceticismo. A crítica à causalidade tem sua primeira, mas não menos... more
A história da filosofia assimilou a obra de David Hume ao empirismo, fazendo da crítica à causalidade um dos principais signos da sua radicalidade e, por vezes, do seu ceticismo. A crítica à causalidade tem sua primeira, mas não menos sofisticada, formulação no Tratado da Natureza Humana. Assim, ao reservar-lhe a notoriedade pela formulação da crítica, a história da filosofia sempre fizera questão de acentuar o aparente contraste entre, de um lado, a perturbadora denúncia segundo a qual não haveria relação necessária entre eventos empíricos e, de outro, a insatisfatória solução dada ao problema. Seja como for, o cerne da crítica à causalidade parece ser o diagnóstico segundo o qual as relações entre os eventos empíricos não poderiam senão ser exteriores aos próprios fenômenos, o que conduz a obra a uma funda reflexão sobre a unidade da experiência e da razão. Uma das mais importantes consequências da atribuição do epíteto de exterior às relações entre os fenômenos empíricos é situar tais relações como resultado da elaboração de um sujeito. Nesse contexto, a principal questão diz respeito ao estatuto da necessidade aplicada a um campo que não admite relações internas, ao contrário do que seria característico das matemáticas. Se por um lado a formulação do problema da causalidade consiste em fazer ver que as relações entre os fenômenos são exteriores e que, por isso mesmo, não há relação necessária entre eles, por outro, a solução consistirá na afirmação de que, embora sejam exteriores, as relações são necessárias. Agora, trata-se de afirmar um tipo de necessidade diferente daquele que é afirmado pelo caráter interno das relações. No entanto, ao que nos parece, tão importante quanto a afirmação do caráter exterior das relações é a concepção de natureza humana que ampara a solução dos problemas envolvidos na crítica à causalidade. Em sendo assim, se a formulação do problema afigura-se como tipicamente cético, a sua solução ganha ares de um naturalismo que, pelo menos à primeira vista, não parece conciliar-se com o espírito da formulação cética, mesmo porque é o próprio Hume que compreenderá ser tão cético o problema quanto a sua solução. A ênfase no contraste entre a formulação cética do problema e o quanto a solução tem de naturalista, tende a cindir a obra de Hume em dois gestos desiguais, recusando-lhe sua unidade. No entanto, razões internas à obra parecem indicar que ambos os momentos são legítimos e complementares. E não há melhor maneira de fazer ver que se trata de momentos complementares do que reconstituir as razões internas à obra, o que, nesse caso, significa recuperar as exigências conceituais pelas quais Hume retira e faz retornar, de uma maneira bem peculiar, a necessidade ao domínio do empírico e interrogar-se sobre o lugar do naturalismo na obra humeana. À medida que envolve o tema da necessidade e o da unidade da experiência, a pesquisa dialoga com o projeto “O Antipsicologismo e a Certeza em Wittgenstein”, pois se aqui cumpre avaliar a perspectiva humeana segundo a qual a experiência delimita o campo do significativo a partir de uma noção de necessidade que resulta da crítica à razão, no projeto trata-se de examinar a relação
entre lógica e empiria a partir de uma crítica ao psicologismo cujo principal componente consiste em delimitar o campo do significativo a partir das práticas.

PALAVRAS-CHAVE: David Hume; Naturalismo; Causalidade