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Jüra sobre "sortaminha", o álbum de estreia: "são canções que agradecem a vida e o amor"

O aguardado disco de estreia chegou hoje às lojas e plataformas digitais. O álbum é composto por 15 faixas, todas com composição e letra da artista de 25 anos.

Jüra sobre "sortaminha", o álbum de estreia: "são canções que agradecem a vida e o amor"
Joanna Correia

Esta quinta-feira, 16 de maio, Jüra (Joana Silva) editou "sortaminha" - o aguardado álbum de estreia que chegou às lojas e plataformas digitais sem aviso. O disco é composto por 15 faixas, todas com composição e letra da artista de 25 anos.

"sortaminha" nasceu de uma residência artística que, em 2023, levou Jüra e os seus cúmplices criativos para Sesimbra. 

Durante cinco dias, a artista portuguesa isolou-se, ao lado dos produtores e músicos DØR, L-Ali, MIGUELE e NED FLANGER, para "materializar" as emoções e criar em estado de absoluta liberdade. Os nomes dos produtores Beiro, João Maia Ferreira e Luar juntam-se na ficha de créditos e L-Ali e Real GUNS dão os contributos em duas faixas. 

"sortaminha" representa "uma nova fase na carreira e vida da cantautora, um álbum que é a identidade bem definida de uma jovem artista que não se deixa condicionar por géneros, mas antes todos os vários ritmos urbanos que vivem à sua volta. Não é de estranhar que ao longo das 15 faixas se ouça hip hop, r&b, ou até trance, que se unem à Pop que Jüra tem vindo a criar e a desenvolver desde 2020. Uma das suas grandes características, e intocável, seja na sua música, como na sua imagem, é que é esta a sua verdade", diz a nota de imprensa que descreve o álbum. 

Recentemente, foste uma das convidadas dos concertos do Diogo Piçarra na Super Bock Arena, no Porto, e no Sagres Campo Pequeno, em Lisboa. Como é que foi a experiência?

Foi muito louco. É sempre bom cantar, quanto mais estar numa produção gigante como é a produção do Diogo. É um artista que gosta de explorar todas as vertentes [de um espetáculo]. Isso é algo que admiro nele. Foi uma sensação muito fixe ver aquelas pessoas todas à minha frente. Queria ter ficado ali durante mais tempo. (risos) Foi muito divertido. Gostei muito de fazer isso com ele, tanto no Porto como em Lisboa. O Diogo tem um núcleo de fãs muito aconchegante. Tem um público muito fixe. Senti-me muito bem com ele no palco. 

E esses espetáculos mostraram, mais uma vez, que a vossa geração de artistas gosta de funcionar em comunidade. O Van Zee, o Frankieontheguitar e Bispo também estavam lá… 

Sim. 

E partilham fãs, provavelmente.

E criam-se novos fãs! O que acaba por ser mágico. Percebi que depois de cantar com o Diogo a 'sabesamar' cheguei a pessoas que ainda não me conheciam. Só me conheceram por causa desse tema. São pessoas que agora estão também no meu caminho. Isso é muito bom.  

 
Vamos então ao teu primeiro álbum. Há uma sensação de gratidão em "sortaminha", certo? Este disco vem de que lugares emocionais?

Até fazer este disco, que é o meu primeiro álbum, achava que o amor e a dor iam estar sempre de mãos dadas. Mas já não acho isso. A vida mudou. Estou a crescer, a aprender. Estou a cuidar mais de mim, para que também possa cuidar melhor dos outros. Agora estou numa relação maravilhosa e muito saudável. É uma relação que gira à volta da reciprocidade. Além disso, a nível profissional, tenho uma equipa de pessoas que me apoiam, que me celebram por quem eu sou e que me ajudam a fazer exatamente aquilo que eu quero. Não me puxam para outros caminhos. São coisas que trazem sorte. De repente, temos um álbum com canções bonitas e felizes. São canções que agradecem a vida e o amor. São canções sem dor, o que é uma novidade para mim. É uma celebração. Afinal, coisas assim acontecem.    

Mas chegaste a esse lugar depois de um processo interno, certo? Dá para perceber isso também no teu álbum...

O álbum chama-se "sortaminha", mas há quem diga - e diz muito bem - que a sorte dá trabalho. Acredito muito nisso. Acho que estou neste lugar porque descobri que tinha muitos demónios. Fui-me reconstruindo a partir daí. Mergulhei em mim. Quis aprender-me para que fosse mais fácil para outra pessoa poder conhecer-me. Só assim é que a comunicação flui. Tive de aprender muito sobre mim para conseguir estar desta forma numa relação. Para poder dividir o amor e depois multiplicá-lo. E não dividir a dor. É bom termos colo, mas o que é bom mesmo é podermos partilhar momentos bons, criar um lugar de paz. Temos de estar bem para que isso aconteça. Temos de mergulhar em nós e aceitar quem somos. É importante trabalharmos as coisas más que temos cá dentro. Por vezes, a vida cria-nos barreiras e levanta-nos defesas. E, muitas vezes, essas defesas não nos ajudam. Acho que também é importante percebermos como é que podemos ser mais verdadeiros uns com os outros. Isso ajuda a que a comunicação seja mais clara.

Mas ainda há espaço para o lamento na tua composição?

Claro que sim. Faz parte da vida. 

Falas mesmo em aprender a viver na apresentação que fizeste do álbum. Achas que é uma aprendizagem contínua?

Sim. Acho que estamos sempre a aprender. Dou muito valor a essa aprendizagem. Há pessoas que passam pela vida de uma forma mais tranquila, sem pensar muito nisso. Mas eu quero mesmo aprender a viver melhor aqui. Acho que isso é muito importante. Até pode doer mas depois transforma-se em tudo o resto. É quando aprendemos a relativizar melhor tudo. Acho que vou sempre passar pelo lamento. Se alguma coisa me magoar, vou viver a mágoa. É importante vivermos o que é bom mas também o que é mau.   

Falas mesmo em aprender a viver na apresentação que fizeste do álbum. Achas que é uma aprendizagem contínua?

Sim. Acho que estamos sempre a aprender. Dou muito valor a essa aprendizagem. Há pessoas que passam pela vida de uma forma mais tranquila, sem pensar muito nisso. Mas eu quero mesmo aprender a viver melhor aqui. Acho que isso é muito importante. Até pode doer mas depois transforma-se em tudo o resto. É quando aprendemos a relativizar melhor tudo. Acho que vou sempre passar pelo lamento. Se alguma coisa me magoar, vou viver a mágoa. É importante vivermos o que é bom mas também o que é mau.   


Não sei se tens um diário, se calhar até tens, mas já percebi que as tuas canções também são uma forma de poderes cristalizar as tuas vivências. O teu processo de composição é mais fluido ou gostas de ir sempre aperfeiçoando o que te vai saindo?

É [um processo] completamente fluido. Não costumo escrever em diários mas falo muito comigo própria. Penso muito nas coisas. Percebi também que me compreendo melhor quando escrevo canções. É por isso que guardo o lugar de composição como um altar, um templo. Gosto muito de criar em estúdio. Gosto de gravar em estúdio o que vou criando. Acabo por nem usar as notas que guardo no telemóvel. Gosto que as canções nasçam com aquilo que estou a sentir no momento. Gosto que se desenvolvam no momento para que as emoções fiquem eternizadas. O que hoje é verdade pode ser mentira amanhã. Não costumo corrigir as composições e não penso em nenhuma técnica. O que sai é o que fica. Não tenho por hábito substituir palavras, pontos ou vírgulas. Fica tal e qual como veio ao mundo. Deixo-a existir como é.

Dás prioridade à pureza na conexão com as tuas emoções...

Sim. Se é a verdade. É o que fica. Gosto de manter a minha música neste lugar. É um lugar muito especial para mim. 

E a tua verdade não pode ficar comprometida com as exigências da indústria musical ou até dos fãs? Ou será intocável para sempre? 

Acho que será sempre intocável. É por causa dessa verdade que faço canções. É uma consequência de sentir e de ter tanto para dizer. Para mim só faz sentido desta maneira. Vou preservar, ao máximo, esse lugar sagrado.

E tens colaborações neste disco... 

A faixa '+' é com o L-Ali [Hélder Sousa] que, por acaso, é a musa deste álbum. É o meu namorado. Ele tinha mesmo de estar no disco. É um dos quatro produtores que estiveram comigo na residência artística que fizemos em Sesimbra [em 2023]. Foi nesse lugar que essa canção nasceu. O beat é do Miguele que também é o meu guitarrista. Quando ouvi o beat comecei logo a escrever e disse ao L-Ali que podíamos fazer o tema juntos. Ele foi escrever para junto da piscina e eu fiquei a escrever na sala. O mais curioso é que, sem sabermos, falámos os dois de água na letra. Achámos que foi um momento muito mágico e fofo. Até gravámos o momento em que ele me mostra a letra. 

Como é que foi a experiência em Sesimbra?

Foi mágico. Foram só cinco dias, mas saí de lá a chorar. Não queria voltar à realidade. Foram cinco dias tão bons, tão mágicos. Queríamos ter ficado lá para sempre. Durante esses dias não tínhamos horários para nada. Cada um acordava às horas que queria, deitava-se às horas que queria. Eu era das primeiras a acordar. A primeira coisa que fazia de manhã era dar um mergulho, depois ia tomar o pequeno-almoço. Os rapazes iam para o computador, começavam a fazer coisas. Se ouvisse alguma coisa que me estivesse a interessar, ia ter com eles, começava a escrever e dizia para irmos gravar. Saímos de lá com dez demos e com muitos leads de voz para muitos temas que fazem parte do álbum. Gravámos isso tudo na sala de um amigo meu. Estávamos muito envolvidos na experiência. Estávamos a criar sem limitações e sem objetivos muito concretos. Quisemos explorar a criação com liberdade. O resultado até foi diferente daquilo que estávamos à espera, mas ficámos muito orgulhosos com aquilo que saiu. 

E continuas a cruzar sonoridades. Achas que já cimentaste a tua identidade musical?

De tudo o que já lancei, sinto que este álbum é o que me representa melhor. E digo isto em termos de sonoridade, de letras (embora algumas já tenham vindo de trás), estética e da parte visual. É lindo sentir isso com o primeiro disco. Acho que é muito importante. Em relação ao cruzamento de sonoridades, sinto que o álbum agrega todas as minhas vertentes musicais. Se até agora vivia muito o lamento, que pedia mais a balada, este álbum traz outros lugares por onde passei. O tema ‘infinitu’, por exemplo, começou com a ideia de fazermos um som mais virado para trance só porque eu gostava de ir a raves e a festas com esse tipo de som. Passamos por todas as coisas que fazem parte de quem sou. Sou muita coisa e acho que neste disco dá para perceber tudo o que sou. O que crio é muito à volta de quem eu sou, daquilo que quero dizer. Isso permite-me ter a liberdade de fazer tudo e mais alguma coisa. Posso fazer muitas coisas diferentes. Não estou à espera de ir ao encontro de uma expectativa exterior.   

E que canções é que destacas?

Gosto muito de todas mas destaco a 'tarondeder'. Quando fizemos a residência, a minha relação com o Hélder ainda era uma novidade. Por isso, além de ter sido uma residência artística, foi um ninho de amor muito fofinho. E também foi nessa altura que comecei a perspetivar um futuro com ele. Quando estávamos lá senti necessidade de lhe dizer que, por mais que a vida nos afastasse, nem que fosse por um momento, iria sempre fazer questão de estar presente. Queria que ele soubesse que vou estar sempre com ele. E a 'tarondeder' nasce da vontade de lhe dizer isso. E também gosto muito da sonoridade desse tema. Tem muita intensidade. É uma intensidade de coisas boas. Neste momento, é a minha preferida.  

E o que é que estás a preparar para os concertos, sendo que no verão vais passar pelo NOS Alive e pelo MEO Marés Vivas...

No dia 30 de maio, vamos atuar na Queima das Fitas de Coimbra. Fico muito contente por poder ir atuar lá. Foi onde nasci, os meus avós são de lá. Vai ser muito fixe. (risos) Este álbum tem uma batida diferente e tem um mood e uma estética diferentes. É mais para dançar, para celebrar, para saltar. Os concertos vão ser muito enérgicos. Estou muito contente por partilhar o “sortaminha” com as pessoas.  

Jüra regressa ao NOS Alive em 2024, para uma atuação no palco WTF Clubbing, a 12 de julho. A 21 de julho, a cantora atua no MEO Marés Vivas, em Vila Nova de Gaia. Antes disso, a 30 de maio, Joana Silva sobe ao palco da Queima das Fitas de Coimbra. 

está também nomeada na categoria de Artista Revelação nos PLAY - Prémios da Música Portuguesa, cuja entrega está agendada para hoje, 16 de maio, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.