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São "invisíveis", extremamente letais e usam IA. Força Aérea Portuguesa quer comprar 27 dos caças mais caros do mundo

17 mai, 22:00
Caça de combate de quinta geração F-35 (Associated Press)

São mais do que um avião, "são uma capacidade" que pode resolver uma das maiores vulnerabilidades das Forças Armadas portuguesas, mas têm um custo astronómico que pode rondar os 275 milhões de euros por ano, ao longo de 20 anos

O chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA) fez as contas e tomou uma decisão: a Força Aérea Portuguesa quer comprar 27 caças norte-americanos F-35 da Lockheed Martin para substituir a frota de 28 F-16M, que corre o risco de ficar “obsoleta”. As novas aeronaves são vistas como uma das armas mais evoluídas do mundo e o custo previsto pelo general João Cartaxo Alves para este projeto é de 5,5 mil milhões de euros, valor a ser pago ao longo de um período de 20 anos.

À CNN Portugal, o CEMFA revelou que já existiram vários contactos com a embaixada norte-americana em Portugal bem como com o fabricante, que já veio a Portugal para realizar um workshop com vários quadros deste ramo das Forças Armadas. No entanto, a decisão de avançar com a compra “é sempre política”, admite Cartaxo Alves, que garante que, no entanto, os representantes políticos “deste e do anterior Governo” estão a par desta intenção dos militares.

“Para a Força Aérea a escolha está tomada. O F-35 é muito mais do que um avião, é um programa e uma capacidade. Seria fundamental para a Defesa do nosso espaço aéreo e para assegurar o cumprimento dos nossos compromissos”, argumenta Cartaxo Alves.

Mesmo que haja consenso político para avançar com a compra, o processo vai ser demorado e começa tarde. Todas as compras de armamento norte-americano têm de ser tratadas diretamente com o Departamento da Defesa e o processo começa a partir do momento em que o Governo português enviar uma carta para iniciar as negociações que detalham os valores e os prazos do programa.

“O primeiro avião pode só chegar daqui a sete anos”, admite o CEMFA, acrescentando que estes caças vão chegar “de forma faseada”, o que implica que nos primeiros anos a Força Aérea Portuguesa vai voar os F-16M e os F-35A em simultâneo. O número de aeronaves avançado pelo general tem em conta “o número de missões que temos de cumprir”, o número de aeronaves que “precisam de estar em manutenção”, potenciais avarias e reservas.

Assim que exista um acordo entre o Governo português e o Departamento de Defesa norte-americano, a FAP começa todo o processo de transição, que passa pelo envio de técnicos e pilotos para os Estados Unidos da América, onde será feita a formação.

Entre os argumentos utilizados pela Força Aérea Portuguesa para justificar a transição do F-16M para os F-35A está o facto de os caças atuais terem mais de 30 anos e de, apesar de manterem uma boa capacidade de letalidade, terem uma baixa capacidade de sobrevivência no campo de batalha moderno. Com a proliferação dos radares e dos sistemas de defesas antiaéreos, é cada vez mais perigoso para um F-16 operar num cenário de combate. O mesmo não acontece com o F-35, que é praticamente invisível ao radar devido ao seu design e aos materiais que absorvem a radiação com que foi construído.

“Os nossos F-16 correm o risco de levantar voo para destruir um alvo e, se tiverem pela frente um avião de quinta geração, são abatidos sem se aperceberem de onde veio o ataque”, explica.

O F-35 é capaz de atingir uma velocidade de 1,6 vezes a velocidade do som. Além disso, tem uma grande vantagem em comparação com os F-16 por transportar quase o dobro do combustível. Esta característica permite a estes aviões operar num raio de ação muito superior, sem ter de abastecer. Esta é uma característica que é útil para a FAP, que tem de garantir a soberania de todo o território nacional, que inclui o vasto espaço marítimo português, onde frequentemente são intercetadas aeronaves russas.

Uma das maiores vulnerabilidades das forças armadas portuguesas passa pelas suas capacidades de defesa antiaérea. E nesse campo o F-35 poderá acrescentar muito mais capacidades. O general Cartaxo Alves recordou o recente ataque de larga escala do Irão contra Israel, onde estas aeronaves tiveram um papel fundamental na interceção de um número significativo dos projéteis. “Estavam completamente integrados nos sistemas de defesa antiaérea e demonstraram bem as suas capacidades”, defende.

Mas uma das principais características que distingue o F-35 de outras aeronaves é a forte componente tecnológica. Este avião a jato transporta um conjunto dos sensores mais avançados da história da aviação, estando particularmente preparado para a guerra eletrónica. Mas é no software que estes aviões de combate brilham. Estes aviões são continuamente atualizados desde que foram lançados, o que permite que se mantenham permanentemente ajustados às mais recentes inovações do campo de batalha. Nos próximos anos, o Pentágono planeia integrar diversos sistemas de Inteligência Artificial no F-35, de forma a garantir que ele permanece relevante durante as próximas décadas.

Entre os argumentos utilizados pelo general Cartaxo Alves está o facto de a manutenção dos F-16M estar prestes a tornar-se significativamente mais cara a cada ano que passa. Isto acontece porque Portugal integra um programa de compra conjunta de peças para os aviões, o que permitia obter os equipamentos a preços muito mais reduzidos do que seriam caso fossem comprados individualmente. Só que o regresso da ameaça de guerra no continente europeu levou muitos dos países que participavam neste grupo a avançar com a rápida modernização das suas frotas, iniciando a transição para o F-35 em alta velocidade e deixando Portugal cada vez mais sozinho.

Países como Alemanha, Países Baixos, República Checa, Polónia, Noruega, Itália, Dinamarca, Bélgica, Roménia e Grécia já receberam ou iniciaram o processo de compra dos F-35. Entre as exceções está a que opera o caça Dassault Rafale e a Suécia que opera o JAS 39 Grippen. Segundo Cartaxo Alves, apesar de ainda não ter sido feita uma escolha, Espanha encontra-se em processo de decisão.

A Força Aérea acredita que manter os F-16M pode mesmo significar uma quebra de confiança na relação com os aliados no campo de batalha. A Força Aérea Portuguesa acredita que essa situação poderia levar a que Portugal fosse posto de parte em várias missões de defesa do espaço aéreo europeu, como acontece atualmente na missão que Portugal lidera na Lituânia. “Podemos passar a ser uma vulnerabilidade para os nossos aliados, que, de repente, se veem obrigados a defender-nos”, explica o general.

Alguns destes países, como a Alemanha ou a Itália, celebraram acordos com a Lockheed Martin para deslocar parte da produção destas aeronaves para o seu território. Embora essa possibilidade não se coloque no caso português, o CEMFA admite que a adoção do programa do F-35 pode trazer para Portugal uma “forte capacitação” da indústria da defesa portuguesa, que poderá passar a produzir peças ou a dar apoio ao programa, em particular o cluster aeronáutico.

Mas o F-35 é uma das mais caras aeronaves de sempre. Quando foi lançada, em 2016, tinha um preço médio de 110 milhões de dólares por unidade, mas devido às economias de escala e a melhorias no processo de construção, o preço de cada unidade tem vindo a descer e estima-se que custe aproximadamente 82 milhões de dólares (aproximadamente 75 milhões de euros), embora este valor possa variar bastante em função das capacidades e das características contratadas.

Atualmente, apenas Estados Unidos, China e Rússia operam aeronaves da chamada quinta geração. No entanto, os especialistas lançam algumas dúvidas quanto à operacionalidade da aeronave russa, o Su-57. Estima-se que pouco mais de 30 unidades foram produzidas e Moscovo não arrisca utilizar este avião no teatro de operações na Ucrânia. Ainda assim, o F-35 norte-americano está envolvido em muita polémica, devido ao seu desenvolvimento ter custado mais de 80% do inicialmente estimado, de acordo com o Pentágono.

A Portugal, a aquisição deste caça pode vir a custar 275 milhões de euros por ano. Questionado sobre o impacto que os elevados custos podem ter para o decisor político que precisa de explicar a decisão aos eleitores, o general Cartaxo Alves garante que é tudo “uma questão de escolhas” e recorda que Portugal optou por gastar mais de 3,2 mil milhões de euros na companhia aérea TAP. O CEMFA defende ainda que esta é uma decisão que tem de ser tomada tal como aconteceu no passado quando a FAP passou dos Fiat G.91 para os F-16.

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