DOI: 10.5433/2447-1747.2020v29n1p25
Paisagem e Geossistema: Epistemologia, Método e Cartografia
Landscape and Geosystem: Epistemology, Method and Cartography
Paisaje y Geosistema: Epistemología, Método y Cartografía
Hélio de Souza Morais Junior1
Marcia Aparecida da Silva Pimentel2
RESUMO: A conjuntura epistêmica em que a ciência geográfica se encontra tem evidenciado debates
importantes sobre paisagem e geossistema em várias escolas do pensamento geográfico (russa,
europeia, estadunidense e latino-americana). A reflexão epistemológica, o método e os critérios para
cartografar são os elementos principais desta breve reflexão sobre paisagem e geossistema. O
objetivo deste artigo é debater o conceito da categoria paisagem, compreendendo esta categoria
como uma ferramenta qualificada para a análise do espaço geográfico – pois o fundamento
epistemológico sobre a paisagem será a estrutura óssea do método científico, o método será o
percurso da reflexão, da análise e do discurso sobre o problema (ou objeto), cuja deficiência não é
cartográfica e sim do próprio método, e que por sua vez perpassa pela questão epistemológica.
Portanto, durante o desenvolvimento do conceito de paisagem e o nascimento da abordagem
geossistêmica, ambas se tornaram a conexão mais perfeita dos estudos geográficos atualmente, que
sugerem um avanço ou uma quebra paradigmática no seio do pensamento geográfico
contemporâneo.
PALAVRAS-CHAVE: Paisagem. Geossistema. Epistemologia. Método. Cartografia.
ABSTRACT: The epistemic conjuncture, which supports the geographical science, has evidenced
important debates about landscape and geosystem in several schools of geographic thought
(Russian, European, American and Latin American). The epistemological reflection, method and
criteria for mapping, are the main elements of this brief reflection about landscape and geosystem.
The purpose of this paper is to debate the concept of the landscape category, understanding this
category as a qualified tool for the analysis of geographical space, since, the epistemological
foundation about the landscape, will be the structure of the scientific method. The method will be the
course of reflection, analysis, and discourse about the problem (or object) whose deficiency is not
cartographic but of the method itself, which spans the epistemological question. Therefore, during the
development of the concept of landscape and the rise of the geosystemic approach, they became both
1
Programa de Pós-graduação Lato Sensu Especialização em Geografia e Meio Ambiente da Universidade
Federal do Pará (UFPA). Campus Ananindeua Rodovia BR 316, Km 07, n°590 - Bairro Levylândia, CEP: 67113901 – Ananindeua (PA), Brasil. heliomorais@ufpa.br.
2
Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA). Campus do Guamá CEP: 60440-554 - Belém (PA). mapimentel@ufpa.br.
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the perfect connection of geographic studies currently, which suggest a breakthrough or a
paradigmatic break in contemporary geographic thought.
KEYWORDS: Landscape. Geosystem. Epistemolog. Method. Cartography.
RESUMEN: La coyuntura epistémica en que la ciencia geográfica se encuentra ha evidenciado
debates importantes sobre paisaje y geosistema en varias escuelas del pensamiento geográfico
(ruso, europeo, estadounidense, latinoamericano). La reflexión epistemológica, el método y los
criterios para cartografiar son los elementos principales de esta breve reflexión sobre el paisaje y el
geosistema. El propósito de este documento es debatir el concepto de la categoría de paisaje,
entendiendo esta categoría como una herramienta calificada para el análisis del espacio geográfico,
puesto que, el fundamento epistemológico sobre el paisaje será la estructura del método científico, el
método será el recorrido de la reflexión, del análisis y del discurso sobre el problema (o objeto) cuya
deficiencia no es cartográfica y sí del propio método, y que a su vez pasa por la cuestión
epistemológica. Pero, durante el desarrollo del concepto de paisaje y el nacimiento del enfoque
geosistémico, se han convertido en la conexión más perfecta de los estudios geográficos
actualmente, que sugieren un avance o una ruptura paradigmática en el seno del pensamiento
geográfico contemporáneo.
PALABRAS-CLAVE: Paisaje. Geosistema. Epistemología. Método. Cartografía.
INTRODUÇÃO
O exercício que outrora fizeram, não somente geógrafos, mas plêiades científicas e
não obstante, filosóficas, acerca de conceituação de paisagem deu, sem dúvidas, relativa
autonomia à categoria paisagem como uma ferramenta qualificada para análise do espaço
geográfico. Frolova (2018) mostra que o debate epistêmico sobre paisagem, bem como
sobre geossistema, tem crescido e em especial na escola russa (ou soviética por conta de
autores que tiveram sua intensiva produção no período da União Soviética), e também se
mostra como um paradigma científico em outras escolas do pensamento geográfico, desde
a escola europeia (francesa, espanhola, alemão), americana (escola de Berkeley) e latinoamericana (Cuba, México e Brasil).
Vitte (2007) argumenta que foi em meados do século XVIII com Immanuel Kant (17241804) que se deu o início às críticas metafísicas e estéticas, teleológicas e ontológicas
acerca da natureza. Sem embargo, é neste momento que houve o desenvolvimento das
chamadas Ciências da Terra, principalmente a geologia, a paleontologia e a mineralogia –
esta última, em consequência, forneceu, de acordo com Vitte (2016), a primeira
interpretação sobre a estrutura da Terra, e impulsionou uma nova metodologia de
interpretação das diferentes paisagens. Adiante, para a geografia física, como afirmou Vitte
(2016, p. 289), ―[...] caberia a descrição deste espaço e de suas paisagens, procurando
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demonstrar a variabilidade espacial da natureza e as relações espaciais entre as
paisagens‖.
O desenvolvimento destas ciências segue um longo processo de acumulação do saber
e do fazer geográfico, como mostrou Claval (2014), que vem das chamadas geografias
vernaculares que são muito antes da organização da geografia acadêmica ou das próprias
ciências da Terra do século XIX. Foi Alexander Von Humboldt (1769-1859) uma ―peça‖
fundamental nesta passagem de geografia vernacular à ciência com ―ares‖ de modernidade.
Wulf (2016) demonstra que Humboldt, muito influenciado pela filosofia de Kant que
demonstra a limitação do pensamento clássico acerca da natureza, segue esta linha
posteriormente, tanto para desenvolver seu projeto de física do globo (CAPEL, 2016), como
para suas viagens exploratórias pela América do Sul. Pois, com Kant, na compreensão de
Capel (2016, p. 13):
Produziu-se uma revolução copernicana na filosofia, a primazia da razão
prática. Kant questionou as concepções teleológicas acerca da natureza,
defendendo que os fins autênticos são encontrados apenas em projetos
humanos, o que implicava rejeitar a ideia de que a natureza tinha um
propósito e uma finalidade.
Ainda de acordo com Capel (2016), na geografia, historicamente, duas dimensões
sempre estiveram intrínsecas em seu desenvolvimento, uma físico-matemática e outra a
descrição das características da superfície da Terra. Estas duas dimensões da geografia
foram, com o passar do tempo, se configurando no que seria a ciência geográfica
acadêmica. A geografia moderna nasceu na América, impulsionada pelo imaginário da idade
moderna. Obras descritivas tidas como geografias universais foram o carro-chefe deste
novo momento do fazer geográfico. Por conseguinte, Capel (2016) escreve sobre as
mudanças que experimentou a geografia durante o século XX. Estas mudanças foram
determinantes na construção de uma ciência muito complexa.
Por outro lado, foi somente em meados do século XIX que os fenômenos das
sociedades e agrupamentos humanos viriam a ser objeto de análise crítica do ponto de vista
das ciências sociais então nascidas. No entanto, não se pode esquecer que no âmbito da
geografia (enquanto ciência) foi Elisée Reclus (1830-1905) (geografia social) e Paul Vidal de
La Blache (1845-1918) (geografia humana) aqueles que evidentemente fizeram um esforço
reflexivo e, não obstante, metodológico, de analisar a escala humana em fricção com o meio
físico.
Hoje, a conjuntura epistêmica em que a ciência geográfica se encontra sofisticou a
definição de paisagem. Ontem era de um ponto de vista simplório, daquele em que
paisagem está vinculada apenas com a percepção, ―[...] a Paisagem é a informação que
recebemos do entorno [...] porque o essencial está afinal visível aos olhos e tudo o resto é
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técnica‖ (CANCELA, 2017, p. 84-85). Hoje, a compreensão do termo paisagem é o horizonte
de análise e também a ferramenta analítica, ou seja, uma definição de paisagem que aponta
para essa dupla esfera que coexiste e assim corrobora com os passos de uma reflexão que
não seja escamoteada por uma análise parca do ponto de vista epistemológico, nem
enleada pelo método, desorientada pela escala, confusa pelos elementos estruturantes e
perdida no imediatismo academicista. O argumento principal aqui será da proposição desta
categoria como ferramenta qualificada para a análise crítica do espaço geográfico.
O
ENTRAVE
EPISTEMOLÓGICO:
O
PROBLEMA
É
O
MÉTODO
OU
SERÁ
CONSEQUÊNCIA DE UMA PARCA EPISTEMOLOGIA?
Se, de um lado, a paisagem é o horizonte da análise, não obstante pode ser uma
ferramenta analítica, conferindo dupla esfera, grosso modo, que não andam separadas. É
horizonte de análise por que é na paisagem que se manifesta toda dinâmica natural e social
ou antroponatural, como apontam Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2010), a qual irá definir
uma sociedade ou comunidade territorial. Adiante é ferramenta analítica, porquanto
elementos necessários que a constituem e subsidiam uma compreensão de dupla esfera
para o conceito de paisagem, ou seja, é o objeto de análise bem como a ferramenta
analítica. Isto não conota ideia de explicar a paisagem por si própria, mas conferir a ela força
explicativa das ações que transformam seus elementos constituintes, ou seja, cada
elemento dá uma definição à paisagem, mas a inter-relação entre elementos configura uma
complexidade que Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2010), definem enquanto sistema de
conceitos.
Assim, não se pode confundir paisagem sendo objeto e sujeito, uma espécie de
dualismo, pela distinção entre paisagem e meio ambiente, não obstante pode conferir
similaridades de concepção. Passos (2013) explica que do ponto de vista das ciências
ambientais, quando se esmiúça a paisagem tem-se uma fonte de informações qualitativas
ou quantitativas que indicam as propriedades dos elementos constitutivos da paisagem,
exemplo: a vida vegetal e animal, água, ar e solo que assim a caracterizam.
Porquanto, às ciências ecológicas, segundo Passos (2013), é a funcionalidade
orgânica presente nas paisagens que a definirão. Exemplo: partindo da ideia de
funcionalidade, o que interessa é o nível de poluição presente no ar, no solo ou na água, a
perda gradativa da biodiversidade, seja pela atuação humana ou pela atuação do sistema
natural dinâmico existente no globo terrestre (compensações isostáticas, movimentos
eustáticos, entrada e saída de energia, matéria e informação), e processos erosivos do solo.
Assim, de acordo com Urban, O‘Neill e Shugart (1987), o problema, por conseguinte, está
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em detectar e quantificar o padrão em heterogeneidade espacial das paisagens, portanto,
um bojo de condicionantes paisagísticos que sobressalta o meio ambiente em primeiro lugar
objetivamente e não a paisagem em si.
Faz-se necessário, por conta da amplitude de conceituação, seja dentro ou fora da
ciência geográfica, também apontar para além da funcionalidade da paisagem. A
argumentação aqui é de que nem a funcionalidade, nem a tecnicista, nem a mirada pela
percepção, ou significado, ou valorização da paisagem, dão conta desta complexa categoria
de análise geográfica. Assim, adeja-se diante de uma problemática no centro epistemológico
da discussão, nas palavras de Bertrand (2004, p. 141), ―[...] estudar uma paisagem é antes
de tudo apresentar um problema de método‖.
Certo de que nesta frase Bertrand está olhando o problema do método acerca da
paisagem em âmbito estrutural/funcional para análise –, esta assertiva evidencia quão difícil
e complicada se tornou pontuar uma definição a esta categoria. Sendo assim, do aspecto
funcional ao aspecto contemplativo, a primazia da paisagem estará na relação complexa
que desenvolvem os elementos que a compõem, associados às interferências positivas ou
negativas das comunidades ou sociedades humanas.
Desta maneira, pensando em uma discussão epistemológica, uma definição de
paisagem, tendo o estudo das finalidades estruturais dos elementos que a constituem, pela
natureza ontológica – característica inerente; e pela crítica e hipóteses que soergueram o
conceito de paisagem, se torna um sistema de conceitos. Importante frisar que nesta
reflexão não caberá definição estanque a fim de finalizar a discussão. Este, ainda, será um
espaço a ser preenchido com miríades de reflexões, análises e postulados ciência a fora,
para contribuição e avanço do pensamento geográfico.
Logo, é nesta perspectiva que o debate geossistêmico se aproxima do debate sobre a
paisagem. Não é por acaso que Sochava (2015, p. 235) define geossistema ―[...] como o
espaço terrestre de todas as dimensões, onde os componentes individuais da natureza se
encontram em uma relação sistêmica um com os outros e interagindo com a esfera cósmica
e com a sociedade humana‖. O autor reflete sobre o que chama de estrutura inicial, ou seja,
uma paisagem natural, sendo os estados variáveis dos geossistemas naturais de partida e
posteriormente uma paisagem antropogênica.
O MÉTODO SERÁ UM REFLEXO EPISTEMOLÓGICO OU NÃO SERÁ
Enrique Leff (2016) realiza uma reflexão sobre uma concepção do saber ambiental,
como um saber primordial para que as sociedades de hoje possam vislumbrar futuro de
existência. O saber ambiental é um saber diferenciado – uma epistemologia política –
quando impulsiona um olhar de mudanças nas relações das diversas ecologias e o mundo
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da produtividade. O saber ambiental é o elemento do equilíbrio – sintropia – que gera
conhecimentos e perspectivas utópicas ambientais. Por que utópicas ambientais? Ao passo
que este saber que é múltiplo – interdisciplinar – engendra na sociedade, nas relações,
novas significações do pensar e do agir, modificam as fronteiras do conhecimento,
evidenciando, assim, a crise da razão, a crise do pensamento (unidimensional –
unidirecional – unitensifico – unisentido), ou seja, é a desconstrução do conhecimento
disciplinar, simplificador, unitário. A pedagogia da complexidade é a construção do não
pensado, que não é o novo como fruto de processo viciado, mas o ―novo‖ de um processo
do devir, o saber do devir.
Deste modo, o conhecimento ambiental extrapola todas as normativas disciplinares,
causa um/o rebuliço na ciência, fricciona-se nas ―fronteiras‖ no mundo das ideias – na
filosofia – para que nas relações sociais tenha a concretude, a empiria, a prática que quebra
paradigmas e que evidencia outros mais, deste modo construindo uma racionalidade social
sobre uma nova ciência interdisciplinar. Nesta reflexão, o saber ambiental é para além do
pensamento único, sendo assim ele é um conhecimento do diferente, do diverso – miríade.
Neste sentido, se o problema é o método, o funcionamento deste só acontece
mediante fundamentos epistemológicos, logo é na epistemologia a deficiência – se o objeto
de estudo é a paisagem e ao mirar este como fruto de uma forte interação dos elementos
que a compõem, logo indissociável, deve-se driblar o método de abordagem cartesiana,
positivista, dissociativa. Leff (2016) deixa evidente que o saber ambiental é a materialização
do conhecimento múltiplo sobre bases complexas, uma nova forma de enxergar o mundo e
criar novas formas societárias de relações possíveis. A epistemologia ambiental do
pensamento complexo será e está sendo o exercício antológico do ‗novo‘ ser humano em
sua relação com a natureza.
Daí a saída é através das dimensões epistemológicas que não têm obrigatoriedade de
discutir método. O método será consequência do avanço epistêmico na reflexão e análise
de determinado objeto a fim de compreendê-lo. Consequentemente, o fundamento
epistemológico será a estrutura óssea do método, o método será o percurso da reflexão, da
análise e do discurso sobre o problema (ou objeto). Refletir do ponto de vista epistemológico
dá trabalho e não está, ou não deveria, estar vinculado ao imediatismo produtivista da
sociedade de rendimento (HAN, 2012), fruto da maximização da produção do sistema
capitalista em sua atual fase.
Dentro da ciência geográfica se percebe certo receio em estudar a paisagem do ponto
de vista crítico, como se a partir da paisagem não fosse possível evidenciar tal debate.
Assim sendo, não cabe refletir em sentido retilíneo e unidirecional. Deve-se, assim, dilatar,
retorcer, remexer, colocar no limite, tensioná-la até os últimos centímetros, ao encontro de
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uma análise agora curvilínea e espiral em sentido oblíquo. A paisagem neste sentido –
curvilíneo, espiral, oblíquo – se fricciona à categoria território, são a paisagem e o território
duas categorias gigantes de análise do espaço geográfico que se interconectam. Mas até
que ponto isto não faz uma superposição de conceitos das categorias? Ou, então, a
discussão não perpassa mais por definir as categorias de análise espacial por conta da
complexidade? A abordagem geossistêmica identifica os elementos componentes de sua
análise, mas ao fazê-lo tenta sempre uma perspectiva global.
Metzger (2001) assinala que a paisagem como noção de ―espaço‖, ganhando sentido
ou utilidade através do ―olho‖ ou da ―percepção‖ de um observador, pode ser o conceito
principal de confluência destas diferentes ‖visões‖, ou seja, em dinâmica permanente tornase difícil ou inviável a dissociação analítica, forçando a observação ser feita a partir de um
ponto de vista global. Conquanto, a identificação pode e deve ser setorizada/particularizada,
pois cada componente do sistema (paisagem) configura-se um fator de complexidade mais
ou menos explicitado nela mesma (paisagem). Por isso, Bertrand conferiu ao estudo da
paisagem um problema de método, haja vista as ciências ecológicas partirem da análise
setorizada para chegar a uma análise da totalidade do sistema. Partindo da análise global
do sistema, ressalta-se a importância da relação entre os elementos da paisagem, relação
intrínseca que ao ser alterada produz efeitos significativos – e sendo, assim, a própria
paisagem o registro e o flagrante desta alteração.
A paisagem só será estudada, minimamente coerente, se a pesquisa for feita de forma
a compreender uma geografia física global e que vá ao encontro das dinâmicas sociais, não
necessariamente nesta ordem, mas que pense ambas. Deste modo, em uma epistemologia
e método da paisagem se deve pensar estas duas alçadas – geografia física global e as
dinâmicas sociais – como instância própria (de fato e do fato) existentes e coexistentes
materializando-se na paisagem.
A QUEBRA PARADIGMÁTICA NO PERCORRER EPISTÊMICO
A quebra paradigmática no percorrer epistêmico, na era da pós-modernidade, está
acanastrada à utilização da ciência moderna e o seu casamento com a técnica, redundando
na tecnologia capitalista, como aponta Souza (2016). Para este autor, debatendo sobre o
que alcunhou de bipolaridade epistemológica – geografia física e geografia humana (como
se fosse imã epistemológico, em nossa compreensão) – não se tratam mais das Geografias
Vernaculares e seus Sistemas Geográficos de Informação, dos quais trata Claval (2014), ou
as Geografias Mágicas de Eidorfe Moreira, ou pela Planície Amazônica de Raimundo
Morais, mas sim um acirramento do campo científico do saber que impermeabilizou os
saberes-fazeres geográficos.
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Para Sochava (2015), a geografia física não é uma supersíntese de todos os ramos da
geografia. A geografia física resolve seus problemas complexos sempre em franca relação
entre as instâncias do meio físico natural e o meio antropogênico. Neste sentido, para este
autor, a geografia física está diretamente relacionada com os problemas da geografia da
população, geografia agrária e urbana etc. O autor argumenta que, no passado, quando
geografia física estava mais próxima dos ramos hidrológicos e geomorfológicos, ―[estava]
isolada da sua função principal, o estudo das relações da natureza com a sociedade
humana‖, ao ponto que, para as funções especializadas da geografia física, o autor
compreende que deve haver um significado particular quando se trata de prognóstico dos
geossistemas para o futuro e das investigações feitas para as questões ambientais, ou
―defesa do meio ambiente‖, nas palavras do autor (SOCHAVA, 2015, p. 237).
Realizando um passo à frente, refletindo sobre os esforços teórico-metodológicos de
Elisée Reclus (1830-1905), Jean Tricart (1920-2003) e Edgar Morin (1921-), dois geógrafos
e um sociólogo, respectivamente, separados no tempo e no espaço e nas fronteiras
disciplinares, Souza (2016) constrói uma análise estruturante epistemológica, na qual estes
três autores configuram um entrelaçamento sobre o dilema do método dentro das ciências
sociais. O autor vê a obra O Método, de Morin, como uma rearticulação dos saberes físicobio-antropossociais, fora do campo dos físicos e biólogos, como orientação paradigmática
do conhecimento sobre tudo, por não pressupor nenhuma superioridade de um tipo de saber
sobre o outro.
De acordo com Claval (2014), a ideia que adentra na era pós-moderna é aceita cada
vez mais amplamente nos anos 1980. Isto se traduz em uma atitude mais crítica em relação
à ciência, principalmente às ciências exatas. Fruto de intensos debates iniciados nos anos
60/70 do século passado, as ciências sociais começam a questionar suas semelhanças
metodológicas à física ou à biologia: a sociedade não é uma máquina cujos movimentos
seriam fáceis de descrever e de modelar. As ciências das sociedades, afirma Souza (2016),
não esperam pela física para propor saídas para suas problemáticas.
Porém, a reflexão epistêmica elaborada por Sochava (2015) não envereda pela
questão da concepção existente de uma geografia única ou global, a escola russa tendo a
paisagem, em primeiro lugar, como elemento antológico do pensamento geográfico; e em
segundo, tendo o geossistema como fruto da lógica do desenvolvimento da unificação da
geografia física regional com as ciências da paisagem. A geografia física concentra sua
atenção na Teoria dos Geossistemas, pois:
Ela se tornará cada vez mais independente das disciplinas individuais da
geografia, embora estabeleça relações novas, porém mais profundas. Desta
forma, observa-se uma separação das funções e dos trabalhos dessas
disciplinas e, ao mesmo tempo, uma troca de informações cada vez mais
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intensa. Nesse sentido, a Teoria dos Geossistemas contribui para a
consolidação e imbricamento de disciplinas geográficas (SOCHAVA, 2015,
p. 238).
Para Bertrand (2004, p. 141), ―[...] o estudo das paisagens não pode ser realizado
senão no quadro de uma geografia física global‖. Há, portanto, no pano de fundo do debate
epistêmico, duas concepções ontológicas do pensamento geográfico sobre o conceito de
paisagem. Uma, ocidental, grosso modo, a mais refletida e debatida, ganhando certa
predominância, principalmente, nas universidades; e outra oriental que somente agora está
sendo revisitada com seriedade por várias escolas do pensamento geográfico, como aponta
Frolova (2018).
Desta forma, Claval (2014) escreve que a geografia não pretende mais ter a missão de
dar conta de uma realidade objetiva, a do mundo. Tem, primeiramente, por objetivo
desvendar as motivações escondidas da investigação – e aqui a paisagem é ferramenta
sine qua non para este intento de revelar as verdadeiras finalidades e mostrar quem a
geografia pode beneficiar e quem ela pode prejudicar.
A QUESTÃO DO MÉTODO
Enquanto reflexão epistemológica, se a paisagem é instância própria de fatos
existentes (os elementos em permanente movimento) e coexistentes materializados (o
resultado do movimento), deve-se, agora, partir para outro ponto, os desdobramentos
metodológicos. Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2010), mostram vários aspectos ou enfoques
da paisagem que tratam fundamentalmente das ideias, conceitos e métodos de estudo. De
acordo com estes autores, assim se podem elencar os enfoques na análise da paisagem:
Estrutural – estuda a essência dos elementos que compõem a paisagem, ou seja,
partir da análise estrutural consiste em explicar como se combina os seus componentes
para dar lugar às formações integrais e como é a organização estrutural do sistema
paisagístico, então a análise da paisagem será a partir da sua estrutura, uma diferenciação
em níveis hierárquicos paisagísticos no espaço geográfico, refletidos mais ou menos aos
impactos naturais ou antrópicos que, por conseguinte, mostrará uma compreensão dos
estados de instabilidade e estabilidade. Assim, para Beroutchachvili e Radvanyi (1978) a
estrutura é definida como um sistema de aspectos invariantes; o aspecto é a aparência geral
do sistema; e a invariância é permanência, a independência das condições físicas.
Funcional – para este enfoque o principal objetivo é saber como a paisagem está
estruturada e porque assim se dá, de várias formas ou maneiras estruturantes. Define-se o
funcionamento da paisagem pela estabilidade dos processos que agem continuamente,
consistindo na transmissão de energia, substâncias e informação, garantindo a conservação
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de um estado da paisagem, em um dado tempo (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI,
2010). Por exemplo, os meteorólogos ao estudar o clima de certa região elaboram as
"Normais Climatológicas" que são obtidas através do cálculo das médias de parâmetros
meteorológicos em um período de tempo determinado, 30 anos, convencionado como
recorte de tempo adequado para compreensão do comportamento dos fenômenos físicos
atmosféricos.
Evolutivo-Dinâmico – aqui a modificação é por dentro da estrutura (invariante) que não
necessariamente a transforma qualitativamente, ou seja, a periodicidade e reversibilidade
provocadas como consequência do conjunto de processos que ocorrem no interior das
paisagens e em partes da autorregulação caracterizam as mudanças dinâmicas. A
autorregulação, desta maneira, é a propriedade da paisagem funcionando como mecanismo
que manterá o estado típico, o regime e o caráter das relações entre os componentes. Neste
sentido, esta análise se fará por três categorias independentes, de acordo com o objetivo
para o qual se estuda a paisagem:
i – paleogeográfica – a reconstrução da história geológica, seja por dados
sedimentológicos e/ou paleontológicos, ajuda a reconstituir os cenários de evolução
de paleopaisagens. Rossetti e Toledo (2007) mostram que seria impossível
conceber um modelo de floresta tropical estável para a Região Amazônica e com
acúmulo progressivo das espécies desde o mioceno, por exemplo. Os autores
argumentam que os dados sedimentares e paleontológicos presentes na literatura
atualmente apontam um cenário muito mais complexo para o teatro evolucionário
amazônico, caracterizado por modificações sucessivas no ambiente físico e na
biota associada em consequência de mudanças no nível relativo do mar, no clima e
no comportamento tectônico;
ii – retrospectiva-estrutural – tem por finalidade conhecer a idade e as condições de
formação dos elementos que estruturam as paisagens; o fenômeno de Terras
Caídas é um bom exemplo. Rodrigues (2014) mostra que este fenômeno
condiciona a morfodinâmica de algumas paisagens fluviais da Amazônia, pois atua
de forma incisiva e constante nas estruturas destas paisagens; e
iii – espaço-temporal – tem por finalidade estabelecer, através das tendências
históricas, as etapas dinâmico-evolutivas sucessivas das paisagens. Batistella e
Moran (2005) utilizaram este enfoque na tentativa de compreender as mudanças na
paisagem amazônica que dependem de documentação das alterações passadas e
atuais na cobertura da terra. Para estes autores, para entender as mudanças na
paisagem amazônica, deve-se seguir uma estratégia metodológica de abordagem
georreferenciada multiescalar, termo alcunhado pelos autores, que trata do
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entrelaçamento de variáveis da escala biofísica à escala humana para entender as
trajetórias de mudanças no uso e cobertura das terras.
Antropogênico – será fundamentalmente a participação da ação das comunidades e
sociedades humanas na mudança da dinâmica natural, na inserção de novos elementos,
constituindo a paisagem antropogênica; o homem não cria por completo uma nova
paisagem natural, ele introduz elementos novos que tratam de instalar-se no fundo natural
predominante, na alteração do regime natural dos vários elementos que compõem uma
paisagem, deixando nítida sua principal participação, os resultados acerca do uso e
ocupação dos territórios, gerando paisagens degradadas, que constituem fenômeno
histórico (evolução do meio natural e os diversos modelos e padrões socioeconômicos
experimentados). Enfim, como aponta Bertrand (2004, p. 142), ―[...] as paisagens ditas
‗físicas‘ são, com efeito, quase sempre amplamente remodeladas pela exploração
antrópica‖.
Integrativo da estabilidade e sustentabilidade da paisagem – refletir sobre este
enfoque é vital para compreensão da continuidade ou descontinuidade das paisagens. Aqui
é evidenciada a linha que mantém os processos de estabilidade e sustentabilidade inerentes
ou não aos elementos da paisagem. Quando se trata de estabilidade, tendo o horizonte
analítico sistêmico, se ressalta conceitos inter-relacionados, ou seja, a paisagem por meio
de
seus
elementos
constituintes
e
integrantes
promove
autorregulação
e
autodesenvolvimento sempre que exposta a um esforço ou impacto de ordem natural ou
antrópico. Um exemplo típico é a bacia hidrográfica como unidade funcional deste enfoque,
exaustivamente estudada e analisada por Christofoletti (1980).
Associado a isto se ressalta que esta estabilidade está composta por três formas de
manifestação principais, de acordo com Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2010): solidez,
elasticidade e plasticidade. Dito de outro modo, capacidade de absorver as perturbações
externas, garantindo sua estrutura e propriedades; capacidade de mudar pela forte
influência externa, mas que após a inserção desta força retorna às condições iniciais ou
anteriores; e a capacidade de reorganização, reconstrução da paisagem ao ponto de tender
a um novo estado de equilíbrio ou estado de integridade dos elementos antes da ação,
respectivamente; e a sustentabilidade, desenvolvimento enquanto teoria a ser seguida pela
humanidade, atrelada ao tripé político, econômico e social.
Deste modo, Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2010), elencam alguns enfoques da
paisagem mais evidenciados pelas pesquisas colocadas em prática nas últimas décadas.
Assim, é possível perceber que uma questão está inerente nestes enfoques, a necessidade
de realizar um recorte espacial e temporal. Esta reflexão é importante, pois, tomando, por
exemplo, a referência das escalas têmporo-espaciais dos estudos geomorfológicos,
Bertrand (2004) propõe forma de classificação/taxonomia em unidades de paisagem como
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síntese, em que precisa ter nome definido, numa escala conhecida e cartograficamente
representada.
O PROBLEMA NÃO É CARTOGRÁFICO E SIM DE MÉTODO
O problema não é cartográfico e sim de método, que por sua vez resvala na questão
epistemológica. Bertrand (2004, p. 142), acertadamente, notou que ―[...] a noção de escala é
inseparável do estudo das paisagens‖. Obviamente associou-se certa dificuldade à
representação espacial das paisagens, ordens de grandezas, bem como os graus de
organização e hierarquização dos fenômenos – embora alguns não perceptíveis pela
dimensão humana (ex.: estruturas geradas por tectonismo extensional, ocasionando vales
ou depressões extensas, riftvalley), há problemas específicos da cartografia, ou seja, como
se as técnicas e ferramentas empregadas refletissem falhas no levantamento, construção e
apresentação do objeto mapeado.
Portanto, o problema aqui é a falta de rigor e certa flexibilização nos parâmetros da
pesquisa que deixam de mão um dos principais, se não o mais importante, elemento, a
primazia da escala. Frolova (2018) argumenta que, na maioria dos estudos geossistêmicos,
a escala espacial é usada em aspecto mais operacional do que aquele usado em outras
estruturas holísticas, como, por exemplo, o ecossistema. Neste sentido, quando se altera a
escala de análise, sem levar em consideração as distorções que isso pode ocasionar, e aqui
se refere à escala cartográfica, sem dúvida é comprometida a análise e desembocar-se-á
em uma pesquisa com resultados equivocados, sobretudo na escala geográfica.
Nesta perspectiva, a geógrafa mexicana Atlántida Coll Oliva de Hurtado (2009) aponta
que o mapa, durante várias gerações de geógrafos, foi limitado quase que de forma geral à
filosofia positivista, quando lhe outorga uma atuação passiva de ―ferramenta‖ geográfica.
Vargas (2009) completa apontando que o mapa deve ser considerado uma tecnologia
geográfica de análise espacial, tanto na identificação de problemas territoriais, sociais e
culturais, quanto na necessidade de tradução e abstração através de uma nova linguagem
de comunicação científica do geógrafo. Ou seja, hoje a cartografia é indiscutivelmente
partícipe no processo do saber humano, como aponta Martinelli (2018), não mais em
posição subalterna e sim inserida no universo da comunicação social distintamente como
ciência da concepção, da elaboração e do uso prático de mapa.
Quando Carl Troll (1899-1975), nos anos 60 do século passado, trouxe para a ciência
geográfica a noção de sistema para estudos da paisagem, para Martinelli (1994), não deixou
evidentes as regras da representação cartográfica, pois que se tratou mais de um método
ecológico do que geográfico. Antes, na década de 40 do século passado, Karl Ludwig Von
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Bertalanffy (1901-1972) desenvolveu sua teoria dos sistemas na qual influenciou os mais
diversos campos de conhecimento e a geografia não ficou de fora. Souza (2016, p. 16)
compreende que, no fundo:
[A Teoria dos Sistemas] Não passa de uma espécie de concessão feita à
formação humanística típica de outra época, destinada, na segunda metade
do século XX, a converter-se, na melhor das hipóteses, no mero adorno de
um pragmatismo, de um utilitarismo e de um imediatismo controlados por
uma razão instrumental triunfante.
A questão da escala, para Tricart (1977), está no problema cartográfico de
levantamento topográfico. Para este autor, o mapeamento deve ser detalhado em escala de
1:50.000 e 1:25.000, obviamente esta diferença de escala comporta detalhes maiores de
informação. Aqui o autor está preocupado em garantir o máximo de aproximação à
realidade, daí sua atenção para este fator. De certo que Tricart foi influenciado pelos
estudos e métodos da escola geomorfológica, pois uma pesquisa deste porte deve-se apoiar
em uma metodologia desenvolvida por meio de transectos e levantamento sistêmico do
terreno, associado ao uso de mapas geomorfológicos.
Desta maneira, de acordo com Bertrand (2004, p. 144), este sistema de taxonomia
permite classificar as paisagens em função da escala, ou seja, ―[...] situá-las na dupla
perspectiva do tempo e do espaço. [...] Isto nos leva a dizer que a definição de uma
paisagem é função da escala‖.
Se o nível de informação aumenta ou diminui ao representar espacialmente
determinada paisagem, alterando a escala, alterar-se-á os mecanismos de análise e
interpretação, quando o pesquisador tem familiaridade com as ferramentas e, sobretudo,
rigor e respeito para com o método empregado. A metodologia lançada por Tricart foi
chamada de Cartografia Ecodinâmica ou Ecogeográfica. Utilizando os aportes sistêmicos,
nesta metodologia se considera o aspecto geomorfológico, o qual, para o autor, é o
elemento limitante do desenvolvimento da biocenose, uma vez que esta ocupa espaço
determinado no ecótopo, caracterizando assim uma paisagem. Nesta construção
metodológica, Marcelo Martinelli (1994, p. 65) argumenta:
O que se tem visto é uma cartografia abordando os problemas ambientais
mediante uma representação analítica exaustiva, isto é, desafiando a
complexidade da realidade através de um virtuosismo preso às
possibilidades das artes gráficas, em vez de abordar tais problemas através
de uma representação gráfica lastreada nos fundamentos semiológicos de
uma linguagem monossêmica adequada.
Aqui o autor chama a atenção para a representação espacial que toma como objetivo
maior a representação em si, que subjuga a expressão do fenômeno, deixa frouxa a
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interpretação, justapõe manifestações que em diferentes escalas não refletem a realidade,
ou seja, despreza as especificidades têmporo-espaciais adequadas a cada paisagem e à
escala definida pelo objeto pesquisado (ou mapeado).
Assim, a adequação cartográfica para os estudos da paisagem deve necessariamente
ser feita pela cartografia ambiental. Martinelli (1994) afirma que a escala adequada para um
mapa ambiental deve estar compatível com a resolução do fenômeno, que tem sua
durabilidade no espaço e no tempo, e isso logicamente pede/exige mapeamento que
ressalte a hierarquização têmporo-espacial que respeite as ordens de grandezas dos
respectivos relacionamentos ou contradições de natureza física, biológica ou social. Pois o
que está em jogo é a articulação de diferentes níveis de resolução têmporo-espacial dos
fenômenos levados em conta (MARTINELLI, 2018).
Assim, Monteiro (1996, p. 82) ressalta esta questão que está intimamente ligada ao
problema da escala, que ―[...] no caso brasileiro é frequente termos que lidar com territórios
muito vastos‖. Isto é salutar, pois a discussão perpassa por base geossistêmica e definição
de unidade de paisagem, daí que nestes casos:
[...] trabalha-se geralmente em escalas de 1:1.000.000 e os resultados
serão levantamentos ou interpretações dos recursos — o que Bertrand
rotula de "potencial ecológico‖ — e a estruturação do geossistema visa,
preventivamente, esclarecer as aptidões a ―exploração antrópica" e sugerir
as precauções para evitar o esgotamento dos recursos e manter a
qualidade ambiental (MONTEIRO, 1996, p. 82).
Valeriano (2005) argumenta que, para driblar as dificuldades encontradas em
mapeamento em escala demasiadamente generalizada, se apresenta a utilização de modelo
de elevação dos dados do projeto SRTM (em inglês, Shuttle Radar Topography Mission)
como alternativa para mapeamento do meio físico no território nacional. Decorrente disto é
com frequência atribuída a escala como uma das dificuldades para definição de unidade de
paisagem.
Esta rusga cartográfica protagonizada pela escala deve ser uma das principais
problemáticas a sobrepujar os estudos, análises e definições das paisagens, quiçá das
questões ambientais. No entanto, não será a escala a vilã desta celeuma, contudo deve ser
a primazia escalar um passo à frente para o método, a partir do momento em que – seja no
âmbito de definição das unidades de paisagens, seja para gestão ambiental e dos territórios
– as mudanças de escala estiverem sendo levadas em consideração para a superação, ao
lado do aperfeiçoamento das técnicas de representação, aquilo que se configura no terceiro
grande entrave a resolver no que tange ao geossistema, como afirmou Monteiro (1996). Os
outros dois entraves são dificuldades em "antropizar" o geossistema e necessidade de
prática interdisciplinar.
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Neste interim, Silva (1995) já chamava a atenção para a valorização excessiva do
conhecimento estritamente técnico, em detrimento do domínio dos conceitos e metodologias
de investigação, principalmente aqueles das representações cartográficas mediante o
sensoriamento remoto e geoprocessamento. Sabem-se do grande avanço e importância que
se tornaram estas duas ferramentas, sobretudo atualmente com a ―popularização‖ da
utilização de imagens de satélites de alta resolução, ao frenesi ocasionado pelo boom de
drones e vants. Mas, como ressaltou Silva (1995), a urdidura de conexões físicas, biológicas
e socioeconômicas no tempo e no espaço visando explicação do presente e, se possível, a
previsão do futuro, deverá contemplar o levantamento dos dados das expressões das
territorialidades, pois sem; comprometida ficará a pesquisa.
E A PAISAGEM CULTURAL?
A cultura na diferenciação das paisagens é, sem sombra de dúvida, um rasgo
elementar que não pode estar fora da reflexão epistêmica. Sendo assim, é evidente que o
rasgo cultural nas paisagens impulsiona uma reflexão factual identitária, sentimento de
pertencimento e é por esta lógica que se aproxima do conceito de território. Contudo,
apenas se aproxima, a fricção é virtual ou imaginária, fruto, talvez, de concepção feita no
mote aparente de uma reflexão superficial, principalmente no campo da ciência geográfica.
Pois se tratam de duas grandes categorias de análise, um dos instrumentos de trabalho do
geógrafo, muito caro, então, para se enlear. Há de se ter um espaço para realização de tal
debate. Porém ainda necessitará de muita reflexão. Por ora, a assertiva compreensão de
que ―[...] a paisagem é também aquele lugar indissoluvelmente ligado à criação de
identidade individual ou coletiva‖ (TOJO, 2017, p. 112) e a cultura como sistema de
significação (ANDERSON, 2018) ou como uma espécie de teoria da paisagem (BESSE,
2010) dão pistas sobre o enleio deste debate.
Por agora, debate-se nesta seção a primazia da cultura influenciando os estudos da
paisagem que, não obstante, tem contribuído na reflexão epistêmica, sobretudo hoje quando
as ditas ―ciências duras‖ começam a render-se às análises feitas fora de seu campo. Não é
por acaso, como argumenta Trischler (2017), que pela primeira vez na história das ciências
da Terra, principalmente no caso da geologia, as decisões sobre a periodização geológica
não está a cargo apenas de um grupo de especialistas em estratigrafia, mas está sendo
debatido por equipes interdisciplinares.
O autor elabora uma reflexão sobre o termo Antropoceno, perguntando se se trata de
um conceito geológico ou cultural, por fim o autor chega à conclusão que se trata de uma
tentativa ―para superar a divisão temporal, ontológica, epistemológica e institucional entre a
natureza e a cultura, o meio ambiente e a sociedade, que moldou a visão do mundo
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ocidental desde o século XIX‖ (TRISCHLER, 2017, p. 55). Logo, para este autor os rasgos
culturais definem estruturas físicas ou naturais, podendo até determinar uma era geológica
ou uma época geológica dominada pelo ser humano.
O termo Antropoceno foi alcunhado por Paul Crutzen e Eugene Stoermer no ano 2000
(TRISCHLER, 2017), por entenderem que as ações humanas decisivamente deixam marcas
na estrutura geológica, incorporando assim uma camada estratigráfica. Para Crutzen (2002,
p. 23), o Antropoceno ―[...] começou no final do século XVIII, quando análises de ar
aprisionado em gelo polar mostraram o início de crescentes concentrações globais de
dióxido de carbono e metano‖. Isto leva à análise elementar da geografia cultural, para quem
a paisagem é fruto principalmente de processo histórico-cultural fortemente influenciado pela
ordem moral e ética, política hegemônica de determinado período ou época das sociedades
e que se perpetuam como paisagem em si. Assim, a geografia cultural vê inseparável o
imperativo ético e político para compreender como o poder operava através de
representações. Assim sendo, a paisagem como representação (paisagem cultural) revela
intencionalidades que podem ser a análise da representação como equivalente à análise do
poder, de acordo com Anderson (2018).
Foi Carl Sauer (1889-1975), geógrafo americano da escola de Berkeley, quem colocou
no bojo do debate a primazia do tempo, da história e principalmente da cultura – ―[...] o
conteúdo da paisagem é encontrado, portanto, nas qualidades físicas da área que significa
para o homem e nas formas de utilização desta área, em fatores de fundo físico e fatores de
fundo cultural‖ (SAUER, 1925, p. 303). Esta concepção é muito importante na elaboração
dos estudos da paisagem, construída por ele na década de 1920, e posteriormente, na
década de 1950, suas reflexões e ideias, a partir da escola de Berkeley, configuraram o
debate epistêmico sobre paisagem.
Para Mathewson e Seemann (2008), a escola de Berkeley fundamenta as bases
epistemológicas conceituais em uma orientação geográfica histórico-cultural de paisagem,
girando a abordagem – ―[...] em outras palavras, são as atividades humanas
transformadoras e não as influências dos elementos naturais que ocupam uma posição
central nos estudos da paisagem‖ (MATHEWSON; SEEMANN, 2008, p. 72). Citando Sauer
(1925, p. 72), ―[...] a cultura é o agente, a área natural é o meio, a paisagem cultural é o
resultado‖. Assim, ao aplicar seu conceito de paisagem ao meio ambiente, de acordo com
estes autores, Sauer ―[...] criou uma ‗ecologia geográfica‘ ou ecologia da paisagem que se
distinguia da ecologia dos biólogos e da ecologia humana dos sociólogos‖ (MATHEWSON;
SEEMANN, 2008, p. 76).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A concepção de paisagem enquanto categoria de análise do espaço geográfico foi
com o passar dos séculos sendo reformulada. Ao passo que sua concepção hoje – na
conjuntura do pensamento geográfico, científico – tem mostrado sua dinâmica e
materialização em estudos que não estão setorizados. Ou seja, a apropriação da paisagem
na acepção ampla desta categoria é mola propulsora para avançar no debate paradigmático
epistêmico sobre as sociedades humanas em fricção no meio físico-natural.
O Geossistema, por sua vez, teve e ainda tem grande campo de reflexão e debates,
caminho de possibilidades para alcançar, pois escolas do pensamento geográfico, como por
exemplo, a russa, tem revisitado os estudos geográficos utilizando o geossistema enquanto
ferramenta. A escola latino-americana, em especial, tem levado com seriedade a discussão
e mostrado aplicações viáveis (sustentabilidade dos recursos naturais; questões
econômicas, políticas e sociais; e ambientais).
Deste modo, a conexão mais perfeita do estudo geográfico atualmente é paisagem e
geossistema. Indubitavelmente, é por este motivo que não há de se confundir estes dois
elementos. Evidentemente, no transcorrer do pensamento geográfico, paisagem e
geossistema começaram a ter compreensões aproximadas, e em muitos casos foram
certamente confundidos, fruto do processo de intensificação, em primeiro lugar da utilização
sem reflexão epistêmica que pode ocasionar (aparentemente) desgaste de ambos os
termos.
Em segundo lugar, este mesmo processo de intensificação levou ao avanço das
técnicas de reflexão, ou seja, o método, vinculado ao desenvolvimento de diversas
metodologias, ou seja, as práticas desenvolvidas e envolventes a cada paisagem e para
cada território, orientando uma das práticas da linguagem científica geográfica, o
mapeamento. A cartografia ou fazer cartográfico deve estar para além das técnicas
computacionais. O produto do mapeamento será a influência da paisagem que imprime no
geossistema uma possibilidade e cabe ao geógrafo definir uma escala.
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